Em continuidade à ação de fiscalização em 10 unidades de saúde de Porto Velho, uma equipe do Conselho Regional de Enfermagem de Rondônia (Coren-RO), com a parceria da Força Nacional de Fiscalização (FNFIS) do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), realizou a inspeção durante toda a manhã desta quarta-feira (27) no Hospital Infantil Cosme e Damião.
Considerada acompanhamento após as fiscalizações feitas no final de 2020, a ação constatou várias irregularidades na assistência de Enfermagem. Condições como teto quebrado e com fiação exposta foram registradas, além de falta de medicamentos e profissionais em quantidade suficiente para o atendimento da demanda.
A enfermeira do estado de Pernambuco e fiscal da FNFIS, Ivana Andrade, identificou ainda a falta de enfermeiro no período noturno para fazer a classificação de risco dos pacientes que chegam, e apenas um técnico de Enfermagem faz a triagem com a aferição da temperatura e peso das crianças.
“Dalí, o paciente é encaminhado para o atendimento médico. Mas é necessária a classificação de risco para que sejam dadas as devidas prioridades aos pacientes mais graves, e isso só quem pode fazer é um profissional enfermeiro”, explicou.
A fiscal contou que o remanejamento dos técnicos também acaba desfalcando o setor de origem, que geralmente é da equipe de medicação. “Nesta quarta, também faltou um enfermeiro na classificação, ou seja, um técnico foi remanejado, e o desfalque acontece por falta de um índice de segurança para cobertura em casos da falta de um profissional”.
O problema de falta de pessoal de Enfermagem é um dos maiores na unidade, gerando constantemente o desfalque. A falta do medicamento Simeticona, que é indicado para o alívio dos sintomas no caso de excesso de gases no aparelho gastrintestinal constituindo motivo de dores ou cólicas intestinais, também foi registrada, e segundo os profissionais o problema já acontece há aproximadamente três meses.
Outra situação que foi novamente observada nesta ação, já que a unidade responde ação civil pública movida pelo Coren-RO pelo mesmo problema, é a ala de pacientes crônicos contar apenas com dois técnicos de enfermagem para o atendimento, onde os pacientes não tem previsão de alta. “A situação é desumana tanto para as crianças quanto para as mães, que ficam internadas junto com os filhos sem quase nunca poderem ir para casa. Se o estado oferecesse o serviço de acompanhamento em casa, seria menos oneroso e muito mais digno do que a situação atual dessas famílias”.
Na sala de emergência, um enfermeiro faz o atendimento, mas na falta do profissional, os técnicos da ala semi-intensiva acabam se revezando para atender a demanda, o que gera risco aos pacientes da ala de origem dos técnicos, que por algumas vezes acabam atendendo pacientes suspeitos ou com Covid-19.
Na Central de Diluição, o enfermeiro de Alagoas e fiscal do FNFIS, Weslley Feitoza, detectou que os técnicos estavam trabalhando sem supervisão de um profissional enfermeiro, e durante o plantão, as dúvidas que surgem são “resolvidas” por pesquisa da bula na internet ou por ligação telefônica ao setor de farmácia. “Eles falam com o farmacêutico sobre a manipulação dos medicamentos, enfim. Também não vi nada afixado nas paredes com as orientações de um Procedimento Operacional Padrão (POP), onde poderiam tirar quaisquer dúvidas que surgissem. Por isso é tão importante a presença de um enfermeiro no setor”.
Entre as ilegalidades, ainda há falta de omeprazol, cefalexina, luftal gotas. Algumas medicações manipuladas, não estão sendo oferecidas pelo estado, sendo arcados pelos familiares dos pacientes. “Medicação cancerígena sendo manipulada sem a devida paramentação, como o Ganciclovir. Ele é cancerígeno e existe um POP de preparação desse medicamento, o que aqui não tem esse cuidado”, completou Feitoza.
Além disso, os profissionais de Enfermagem foram orientados sobre a necessidade de preenchimento dos prontuários de acordo com as normas, com assinatura e carimbo/registro do Coren do profissional responsável, o que garante segurança à evolução do paciente e respalda o profissional.
Segundo a fiscal Ivana Andrade, como a unidade hospitalar já responde a um processo civil público, o relatório desse acompanhamento será formulado e anexado juridicamente. As fiscalizações da FNFIS continuam até a próxima sexta-feira (29).