Um verdadeiro negócio da China, que encheu os olhos de quem foi encantado pela possibilidade de ganhar dinheiro fácil e rápido. Alguns, queriam apenas multiplicar um pouco mais aquelas economias guardadas por anos, com muito suor e sacrifício.
Apesar de ser um enredo bastante conhecido por muitos e o final não ser surpreendente, pegou “no contrapé” muitos funcionários, professores e até alunos da Escola Estadual de Ensino Médio de Tempo Integral Brasília, localizada no Bairro Embratel, na zona Norte de Porto Velho.
A pirâmide financeira com nome pomposo (PCCW Bank) ruiu após algumas semanas de muitas promessas, movimentação e animação com ganhos diários de dezenas de reais, após aberturas de contas e investimentos pontuais.
O esquema contava inclusive com a suposta atuação direta da diretora da escola, C.C.M, a coordenadora pedagógica C.G.B.S. e a professora C.G.B.S, irmã da coordenadora pedagógica.
A própria diretora C. encaminhava em grupos do Telegram, diversos comunicados da “chefia maior” (como ela mesmo se referia à pessoas que operavam a pirâmide acima dela), com possibilidades de investimentos iniciais, tempo possível e rendimentos.
Uma gerente conhecida por Amanda a parabenizou por ter batido a meta de ter conseguido novos 100 investidores.
Os valores mínimos que o Rondoniaovivo teve acesso variavam de 300 reais até 100 mil, com retorno mínimo de 45 a 200% em até seis meses, dependendo claro, do valor repassado no sistema PCCW Bank, que contava com um aplicativo manuseado por seus participantes. Hoje o site do “sistema” está fora do ar (pccwbank.com).
“Como toda pirâmide, essa quebrou e gerou prejuízos. Uns grandes outros pequenos. Há uma senhora na escola que perdeu mais de 10 mil reais. Pensava-se que com o ruir dessa pirâmide, a diretora e seus seguidores parariam. Nada! Seguem com outro esquema, de outro nome. Já comunicamos a Ouvidoria da Seduc [Secretaria Estadual de Educação], Polícia Civil e Ministério Público Estadual. Até agora, nada aconteceu com ela e nem seus subordinados”, desabafou uma funcionária da escola.
Desenrolar
Já não bastasse os prejuízos e lamentações pela queda da pirâmide financeira, ainda há perseguições contra quem tenta denunciar as perdas com a PCCW Bank.
“Diversas situações constrangedoras estão ocorrendo na escola: perseguição e assédio moral contra funcionários que não compactuam e não fazem parte do grupo da coordenadora pedagógica e sua irmã. Infelizmente, as gestoras estão, de certa forma, se esquivando de agir. A coordenadora teve seu próprio grupo, quando virou agente vip e recrutou vários professores”, disse um outro funcionário da Escola Estadual Brasília, que perdeu bastante dinheiro.
Diante da certeza de que tinham sido vítimas de um golpe desolador, as pessoas que foram enganadas já procuraram a ouvidoria da Seduc, a Polícia Civil e o MPE no mês de junho. Segundo elas, até o momento, nada aconteceu.
A reportagem teve acesso a um e-mail que respondeu a denúncia feita pelo grupo, que informou que “a demanda foi encaminhada à Promotoria de Justiça Criminal Genérica e foi instaurado o procedimento nº 2022001010013716 para fins de conhecimento e providências pertinentes”.
“As provas que encaminhamos demonstram que a diretora tinha grande dedicação à pirâmide que ocorria em horário de trabalho. A escola funciona das 07:20 até 17:00. Espero que seja tomada alguma atitude após essas denúncias, pois os envolvidos se consideram intocáveis. O nosso desejo é de que ocorra justiça”, afirmou uma terceira pessoa.
E já conformadas com o “tombo” que levaram, criaram até um grupo no mesmo Telegram, onde foram seduzidas com os milagres financeiros da PCCW Bank.
“Resumindo: todos caíram no golpe. Ninguém vai recuperar o dinheiro que tinha na PCCW”, escreveu um rapaz.
Um segundo admitiu: “Não pô. A gente entrou sabendo que era um golpe. Cair em um golpe é não saber. A pergunta que nunca foi [feita] ‘será que vai cair?’. Sempre foi ‘quando será que vai cair?’”.
E o primeiro homem complementou: “Isso, mas ninguém esperava que seria agora [risos]”.
Respostas
Entramos em contato com a diretora C.C.M, por meio do telefone XXXXX-0976, que está nos prints divulgados nesta reportagem. Ela limitou-se a dizer que “estava em horário de trabalho e que não misturava assuntos profissionais com pessoais e que daria retorno no horário de almoço”, mas não o fez até o momento.
Ela também perguntou “quem eram as pessoas que estavam a denunciando”, mas obviamente que o jornal eletrônico não repassou o nome de nenhum dos personagens envolvidos na apuração dos fatos, por questão de segurança.
Segundo a assessoria de comunicação do MPE, o procedimento foi instaurado pela Promotoria de Justiça do Juizado Especial Criminal (24ª PJ), mas foi encaminhado para a Corregedoria da Polícia Civil.
Já a Secretaria Estadual de Educação (Seduc), responsável pela Escola Estadual Brasília, informou que “em relação à denúncias recebidas na ouvidoria da secretaria referente a uma possível pirâmide financeira na escola Brasília, em Porto Velho, a Coordenadoria Regional de Ensino (CRE/PVH) foi acionada para fins de apuração dos fatos ora denunciados”.
E completa: “A Secretaria não coaduna com atividades que não sejam voltadas para a educação, apoia as investigações e está à disposição para prestar esclarecimento aos órgãos competentes”.
A Polícia Civil, por meio do seu departamento de comunicação, iria verificar como estavam as apurações do caso, mas até o fechamento deste texto, não nos enviou nenhum posicionamento. Faremos a atualização desta reportagem caso nos seja enviada alguma nova informação.
Histórico
Em uma rápida pesquisa na internet é fácil encontrar muitos relatos de pessoas que foram vítimas da mesma plataforma, a PCCW Bank.
Em uma reportagem jornalística de agosto de 2021, mais de R$ 40 milhões foram movimentados por uma quadrilha investigada por montar um esquema de pirâmide financeira em Pernambuco, no Rio de Janeiro e na Bahia.
Segundo a Polícia Civil pernambucana, os funcionários das empresas envolvidas buscavam principalmente servidores públicos, que, por telefone, eram convencidos a aplicar dinheiro em investimentos fraudulentos.
Os crimes investigados são os de estelionato, lavagem de dinheiro e crimes contra a ordem econômica, economia popular e contra o consumidor.
Geralmente, os investidores eram convencidos a aplicar, no mínimo, R$ 5 mil. A taxa de juros estipulada variava entre 0,5% e 5% ao mês. Os funcionários afirmavam que os investimentos eram acobertados por um seguro, que, na verdade, se tratava de um seguro empresarial comum, contra incêndio e outras eventualidades.