A carioca Carla Vanessa, de 35 anos, sofreu abusos quando ainda era criança, dos 3 aos 11 anos, por parte de um tio. No fim do ano passado, ela decidiu falar a respeito das violências, denunciar e fazer com que o tio confessasse, em vídeo, o crime.
De acordo com a Polícia Civil do Rio de Janeiro, o caso foi relatado ao Ministério Público, mas encerrado porque está prescrito: mesmo com a confissão do autor, não há mais medidas legais a serem tomadas contra o acusado.
A mulher ainda tenta alguma medida legal junto à Justiça e vive à base de remédios. “O primeiro abuso aconteceu na casa da minha mãe, quando eu tinha 3 anos. Os outros aconteceram na casa do meu avô paterno, no bairro Vicente de Carvalho, onde meu tio morava. Eles se repetiram por várias vezes, até os meus 11 anos, mas eu não entendia o que estava acontecendo”, lembra.
Carla também afirmou que o tio cuidava dela enquanto a mãe lavava roupa para outras pessoas. O homem inventava “brincadeiras” para que os dois ficassem dentro de um quarto. “Esse dia ele praticou estupro anal, na cama do meu avô. Tive sangramentos, minha mãe e meu pai me levaram ao médico. Foi identificada uma infecção intestinal, o médico nem tocou em mim. Como eu não sabia o que tinha ocorrido, não falei nada. O médico concluiu que a infecção que tive foi por conta de amendoins que eu tinha comido. Fiquei muitos anos proibida de comer amendoim de novo, até isso ele tirou de mim. Depois disso, ele arranjou outras formas de me estuprar”, contou a vítima.
A mulher relatou que aos 11 anos ocorreu um dos piores abusos sofridos por ela. “Eu ia na casa do meu avô quase todos os fins de semana. Muitas pessoas da minha família moram ali perto. Nesse dia, estavam todos na casa da minha tia, que era vizinha do meu avô na época. Como já estávamos ali o dia todo, fiquei com sono e fui na casa do meu avô dormir um pouco. Acordei com uma dor muito forte, senti um peso muito grande, não conseguia me virar. Percebi que era ele em cima, pedi por favor para ele parar, pois estava doendo. Ele tampou a minha boca, a mão dele era muito grande, tampava minha boca e meu nariz ao mesmo tempo, só tinha medo de morrer naquela hora. Pedia a Deus para não morrer. Ele escutou o barulho de alguém abrindo uma porta, aí saiu correndo pelo portão. A única coisa que fiz foi vestir minha calça e chorar muito, até dormir”, relatou Carla.
A confissão
Ela conta que só foi entender o que havia ocorrido durante uma palestra no colégio, quando tinha 15 anos. “Era uma aula de educação sexual, na 8ª série. Quando foram explicando tudo, só conseguia me sentir culpada, que eu merecia passar por tudo aquilo. As falas dele, dizendo que eu era boazinha e que não ia contar para ninguém, ecoavam na minha cabeça”.
A vítima não teve coragem de denunciar o tio ou contar para a família durantes esses anos, até que, após uma tentativa de suicídio, conversou com a família. A vítima contou primeiro para a mãe, depois para o pai. “Contei tudo, mostrei o áudio da minha prima, que é minha testemunha. Minha prima sabia, mas também não contou nada para ninguém”, disse.
Depois de contar para sua família, Carla e os pais foram até a casa do tio e o fizeram confessar em vídeo. “Primeiro ele diz que não, mas depois assume tudo. Quando ele viu meu irmão, ele viu que não tinha mais como mentir. Ele confessou tudo na frente do sogro, da cunhada, da namorada, na minha frente. Ele pediu perdão”, relatou.