Dez chefes de uma facção criminosa suspeita que comandar os ataques que ocorrem no estado desde a última sexta-feira (20) vão ser transferidos, nos próximos dias, do Ceará para penitenciárias federais do pais. Informação foi confirmada pelo Governo do Estado do Ceará na manhã desta quarta-feira (25), mas a data das transferências e os locais para onde os detentos serão levados ainda não foram divulgados pelo governo.
Ao todo, o estado já contabiliza 50 ataques em Fortaleza, Região Metropolitana e interior. As ações tiveram início no dia 20 de setembro. Segundo o secretário da Segurança do Ceará, André Costa, a onda de violência é uma reação de detentos que querem a volta de “regalias” nos presídios do estado. Até o momento, a polícia capturou 39 pessoas suspeitas de envolvimento nos atos.
O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) já havia disponibilizado, na terça-feira (24), vagas no Sistema Penitenciário Federal para esses internos que devem ser transferidos, apontados como chefes da facção. A Secretaria da Administração Penitenciária do Ceará (SAP) afirmou ao G1 que 257 presos já haviam sido transferidos como “forma preventiva e tática”.
O governador do Ceará, Camilo Santana (PT), se pronunciou na tarde de terça, afirmando que conversou com o ministro da Justiça, Sérgio Moro, para avaliar a possibilidade de reforço das tropas federais.
Onda de ataques
Nesta quarta-feira (25), pelo menos seis ações criminosas foram registradas, tendo como alvos ônibus e caminhões. No município de Maranguape, na Grande Fortaleza, o ônibus de uma empresa privada foi incendiado por criminosos na madrugada. O motorista, que estava dentro do veículo, foi obrigado a descer e não se feriu. Em Choró, também na Região Metropolitana, um grupo ateou fogo em um transporte escolar no pátio da prefeitura.
Ao todos, os ataques foram registrados em Fortaleza, Quixadá, Quixeramobim, Maracanaú, Paracuru, Caucaia, Ibaretama, Pacatuba, Canindé, Jucás, Várzea Alegre, Juazeiro do Norte, Maranguape, Tauá e Choró.
Retorno das ‘regalias’
Segundo o secretário da Segurança do Ceará, André Costa, detentos querem a volta de “regalias” nos presídios do estado. “Tem um pequeno grupo de detentos trabalhando pra um grupo criminoso especificamente e eles estão revoltados, querem o retorno das regalias, querem que volte a ter visita íntima, querem que volte a ter tomada em cela. Por conta disso, eles estão incomodados, estão fazendo essas ações nas ruas, pessoas ligadas a eles. Essa é a motivação.”
Os internos ligados ao grupo criminoso que vem comandando os ataques violentos no Ceará neste mês vão sair das unidades prisionais de Pacatuba, do Centro de Triagem e Observação Criminológica (CTOC), que funciona no Complexo Penitenciário de Aquiraz, ambos na Região Metropolitana de Fortaleza, e de Quixadá, no Sertão Central.
Em meio a ataques, Fortaleza tem frota de ônibus reduzida e paradas lotadas
“O Depen aguarda a lista de presos por parte do governo do Ceará e a autorização do Juiz da origem. Por questões de segurança não são informados detalhes sobre número de vagas e nem sobre a transferência”, manifestou o MJSP por meio de nota.
O secretário da SAP, Mário Albuquerque, acredita que a transferência vai promover “controle total” sobre a organização.
“São ações de segurança. A gente tá manuseando o preso justamente pra ter controle total sobre ele. Estamos levando pra um local mais seguro. É um grupo específico e a gente tá isolando pra poder ter melhor controle, não deixando que os mesmos tenham contato externo tão facilmente”, comentou o secretário.
Sobre a situação dentro das unidades prisionais, Albuquerque afirma que o sistema segue dentro da “normalidade”.
“O sistema está tranquilo e controlado. A rotina carcerária segue sua normalidade com aulas, atendimento médico e força de trabalho a pleno vapor. Agora é permanecer atento e vigilante para manter o controle e estabilidade do sistema penitenciário do Ceará”, frisou.
A SAP acrescenta que salas de aula, cursos de qualificação e a escala de presos classificados para o trabalho não sofreram alteração.
Possibilidade das tropas federais
O governador Camilo Santana afirmou durante pronunciamento na tarde desta terça-feira (24) que conversou com o ministro da Justiça, Sérgio Moro, para avaliar a possibilidade e a necessidade do reforço de tropas federais para auxiliar no combate aos ataques.
O gestor estadual afirmou ainda que mais de 30 pessoas já foram presas suspeitas das ações criminosas. Lideranças presas das ações serão transferidas para presídios federais, com vagas já autorizadas pelo departamento penitenciário nacional.
Todos os policiais que estavam de férias ou em serviços administrativos foram convocados para as operações de rua, aumentando o policiamento nas ruas, ainda conforme o governador.