O CEO da OpenAI, Sam Altman, diz acreditar que a inteligência artificial geral, capaz de superar os humanos em habilidades cognitivas, revolucionará a sociedade. A substituição dos homens pelos computadores permitiria reduzir o custo dos serviços de educação e saúde, cada vez mais caros nos Estados Unidos, no Brasil e em outros países.
Altman lidera a startup que desenvolveu o ChatGPT, um chatbot que responde a diversas perguntas e já conta com mais de 100 milhões de usuários. De acordo com essa personalidade do Vale do Silício, o próximo grande boom de desenvolvimento pode ser a inteligência artificial. Tal movimento exigiria uma resposta política drástica à distribuição de riqueza.
O executivo faz esses argumentos no manifesto Moore’s Law for Everything (Moore’s Law for Everything), lançado em 2021, antes mesmo do alvoroço dos robôs inteligentes. Esse axioma do Vale do Silício prevê que o progresso tecnológico mantém os produtos mais baratos – a suposição é que a cada dois anos os chips dobrarão de desempenho, mantendo o mesmo preço.
“Nos últimos 20 anos, os preços de televisões, computadores e entretenimento caíram nos Estados Unidos. No entanto, outros custos, como moradia, assistência médica e ensino superior, aumentaram significativamente”, escreve Altman.
Segundo o CEO da OpenAi, a solução habitacional viria com robôs de construção feitos por outros robôs. Para a educação, ensinar inteligência artificial em vez de professores universitários com altos salários. Na área da saúde, os médicos automatizados possibilitaram a economia. O segredo seria dimensionar o trabalho que hoje é feito inteiramente por humanos.
Segundo Altman, é possível ter qualidade de vida arrecadando mais dinheiro ou baixando preços. “Riqueza é poder de compra: quanto podemos comprar com os recursos disponíveis.”
No entanto, o próprio executivo reconhece que a substituição do trabalho intelectual por máquinas seria uma nova fonte de desemprego. Parte desse problema seria superado por novos empregos – “a humanidade está sempre criando novas ocupações”.
Para o CEO da OpenAI, a produtividade obtida com os sistemas de inteligência artificial reduziria a carga de trabalho e garantiria mais tempo criativo às pessoas. O economista John Maynard Keynes estimou em 1930 que o homem do século 21 trabalharia 15 horas por semana, o que é verdade para pouquíssimas pessoas.
Os governos precisam de ajuda com políticas públicas, argumentou Altman: eles devem mudar o foco da tributação da renda para os impostos sobre ativos, como ações e terras. Isso permitiria a redistribuição do capital. Todo cidadão teria assim a possibilidade de capitalização. A inspiração é o sucesso do imposto sobre a terra, proposto pelo economista americano Henry George.
As duas principais fontes de riqueza seriam as ações de empresas, principalmente as de inteligência artificial, e a propriedade de terras.
Questionado pelo colunista do New York Times Ezra Klein em um podcast gravado em 2021 qual forma de governo permitiria tanta mudança no curto prazo, Altman disse que seria necessário pensar em um sistema democrático global. “Temos que descobrir como fazer isso logo. Há muitas razões para sermos pessimistas.”
Altman ainda concordou com Ezra Klein que seria uma má ideia colocar líderes radicais como o ex-presidente dos EUA Donald Trump ou autoritários como o ditador chinês Xi Jinping no comando de sistemas gerais de IA. Pouco antes da entrevista, a OpenAI liberou o acesso ao GPT-3, o gerador de linguagem por trás do ChatGPT.
Com base no sucesso da indústria de computadores, o texto também não leva em consideração os recursos materiais necessários para a construção de infraestrutura de comunicação e processamento de máquinas.
Segundo o pesquisador de Oxford Callum Cant, transparência e responsabilidade em toda a cadeia de suprimentos de IA, desde a mineração até a execução do algoritmo, é um passo fundamental para o uso responsável da tecnologia. Ele dirige o projeto Fair Work for AI, que oferece consultoria para grandes empresas de tecnologia.
O historiador da ciência Pedro Silveira, da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), afirma que a ausência de menção ao impacto da atividade humana na Terra pode estar relacionada à crença em tecnologias de geoengenharia para compensar as mudanças climáticas.
Altman está realmente gastando para viver em um futuro desfavorável. Em 2018, ele investiu US$ 10 mil em um serviço de reservas para a startup Nectome, que promete escanear o cérebro para armazená-lo em computadores.
Silveira também critica a ideia de que toda organização social evolui a partir de um nicho econômico, como a inteligência artificial. “As decisões estariam concentradas nas mãos dos norte-americanos, em sua maioria brancos, californianos que passariam pela Universidade de Stanford. Há pouquíssima diversidade social.”