Um medicamento desenvolvido pela Universidade de Southampton, na Inglaterra, com a companhia Synairgen, reduziu em 79% os sintomas de pessoas com a forma grave da Covid-19. O princípio ativo da droga é o interferon beta, uma proteína produzida pelo corpo e que já é amplamente utilizada, na forma injetável, para o tratamento das hepatites A e B e na esclerose múltipla. A versão testada agora é inalatória.
O estudo duplo-cego (nem médicos nem pacientes sabiam quem estava usando a substância) e controlado por placebo foi realizado em nove hospitais do Reino Unido. Ao todo, 101 pessoas, na faixa dos 50 anos, participaram do experimento. Todas tinham comorbidade e apresentavam, havia mais de nove dias, os sintomas da Covid-19.
No período de tratamento, de 16 dias, o risco de a covid-19 se agravar, exigindo, por exemplo, ventilação mecânica ou resultando em óbito, foi 79% menor nos pacientes que inalaram o interferon beta, em comparação àqueles que receberam placebo e a terapia tradicional. Os voluntários do primeiro grupo também tiveram duas vezes mais chances de se recuperar totalmente, sem evidência clínica nem diagnóstica da infecção.
Menos falta de ar
Outro resultado foi que a falta de ar, um dos sintomas mais graves da Covid-19, foi “significativamente reduzida” nos pacientes que receberam o interferon inalado. Nesse grupo, não houve óbitos. No placebo, três pessoas morreram, antes do início dos testes. O estudo foi realizado em uma amostra relativamente pequena de pacientes, e ainda não teve revisão por pares. Segundo o diretor-geral da Synairgen, Richard Marsden, os resultados sinalizam que a abordagem pode representar um “grande passo adiante”, avançando na forma como a Covid-19 é tratada.
“Os resultados confirmam nossa crença de que o interferon beta, um medicamento amplamente conhecido que, por injeção, foi aprovado para uso em várias outras indicações, tem um enorme potencial como medicamento inalado para restaurar a resposta imune do pulmão, aumentando a proteção, acelerando a recuperação e combatendo o impacto do Sars-CoV-2”, comenta Tom Wilkinson, professor de medicina respiratória na Universidade de Southampton e pesquisador chefe do estudo.