A pressão explícita do centrão e de diversos partidos pela demissão do chanceler Ernesto Araújo deve fazer ele ganhar sobrevida no cargo.
O presidente Jair Bolsonaro se irritou com o tom das críticas ao ministro das Relações Exteriores, que foi bombardeado no Senado nesta semana. E mais ainda com declarações do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, que chegou a falar de “remédios amargos” e “fatais” do parlamento caso não exista, do outro lado, a “flexibilidade de ceder”.
A mudança no Itamaraty, portanto, só deve ocorrer daqui a cerca de um mês, segundo interlocutores de Bolsonaro. Se ocorrer.
O presidente já estaria ciente de que uma troca de comando nas Relações Exteriores será positiva. Mas gosta pessoalmente de Araújo. E, acima de tudo, não quer passar a imagem de que está capitulando ao centrão.
O próprio Arthur Lira teria recuado na noite de quinta (25). Ele também teria concluído que a forma como as coisas apareceram na imprensa desgastava a todos -a Bolsonaro, por parecer um presidente fraco. E a ele próprio, Lira, por fazer uma pressão que poderia ser confundida com chantagem.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, também defende mudanças no Itamaraty.
A ordem agora é fazer a temperatura baixar. E, lá na frente, discutir a saída de Ernesto Araújo em outro contexto, e com uma narrativa menos negativa.
A ideia é adotar o discurso de que Araújo foi um bom chanceler, mas que os tempos mudaram com a derrota de Donald Trump nos EUA e com o agravamento da pandemia no Brasil, o que exigiria uma troca de interlocutor internacional.
De acordo com um integrante da equipe de Bolsonaro, o que ocorre agora com Ernesto Araújo é uma repetição do que já se passou com o general Eduardo Pazuello.
Desgastado no Ministério da Saúde, o militar ganhava sobrevida cada vez que os ataques contra ele aumentavam, já que o presidente resiste a qualquer tipo de troca que enfraqueça a sua imagem como comandante do próprio governo.