Por volta do vigésimo dia de cada mês, um fenômeno acontece na economia de Rondônia. Cerca de R$ 500 milhões circulam rapidamente pelo comércio, a polícia reforça a segurança e a euforia contagia um segmento específico no campo. É quando a indústria de laticínio libera o pagamento aos produtores. Com mais de 2,2 milhões de litros diários, o estado deve continuar recebendo bons frutos do segmento em 2018, a partir dos investimentos feitos em tecnologia e informação.
Rondônia é o maior produtor leiteiro da região Norte e o oitavo no país.
O crescimento no setor tem por base novas tecnologias e o conhecimento, que chegam ao produtor familiar através da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), do governo estadual.
Se o dia de pagamento provoca euforia generalizada entre os produtores, não é menor o entusiasmo entre os extensionistas, os técnicos da Emater que visitam as pequenas propriedades regularmente para levar conhecimento.
“Eles são praticamente da família. São convidados para ser padrinhos de batismo e de casamento”, revela Francisco Sobrinho, diretor de o diretor de Tecnologia e de Planejamento da Emater.
A extensão rural disponibilizada pela empresa é voltada para o pequeno produtor, aquele que não tem condição de trazer um especialista para sua propriedade. Este contingente é responsável por cerca de 80% de toda a produção leiteira, ou seja, uma parte substancial da economia do estado.
A circulação do dinheiro que vem da produção leiteira também é diferente, segundo Francisco Sobrinho. “O produtor recebe pela manhã e à tarde já pagou os fornecedores, o comércio, o posto de combustível. É tudo muito rápido”, explica.
Há uma explicação, segundo o diretor da Emater, para esta “volatilidade” dos ganhos. É que, ao contrário de outros produtos, o leite não pode ser armazenado por muito tempo. É produzido todos os dias e tem mercado garantido. O preço, embora seja regulado pelo mercado e correr riscos, assegura uma renda para a família todos os meses.
O governador Confúcio Moura admite que a produção leiteira ainda tem muito a oferecer. Ele incentiva a difusão da tecnologia e, sobre o manejo, dá exemplos práticos, sem esquecer que a melhoria genética é fundamental neste ramo. “Aquela vaquinha que produz pouco deve ser trocada por outra que dê mais leite”, costuma recomendar quando fala aos produtores.
RANKING
Até o início de 2017, o município de Jaru, na região central do estado, era o maior produtor de leite de Rondônia com 100.05 litros diários e média de 4,22 litros por vaca em suas 1.339 propriedades.
Ao final do ano, o município foi superado por Nova Mamoré, que apresentou 124.414 litros diários e média de 4,83 litros por vaca em 1.538 propriedades. Neste ranking, Porto Velho ocupa apenas a 8ª posição com 78.221 litros diários em 1.248 propriedades, mas subiu seis posições em relação ao levantamento anterior.
Em todo o estado, a média de produtividade é de 5 litros diários por vaca em 32.458 propriedades rurais.
A grandiosidade do setor é sustentada por números. A pecuária leiteira envolve mais de 60 mil postos de trabalho.
Vários fatores contribuem para que a bovinocultura leiteira tenha crescimento tão significante em Rondônia. Segundo Francisco Sobrinho, o clima favorável é um deles.
“O apoio do governador Confúcio Moura ao definir políticas positivas para o setor é fundamental”, analisa Sobrinho, que é engenheiro agrônomo que defende com ardor o trabalho dos extensionaistas da empresa estatal.
SUCESSÃO
Outra novidade que está cada vez mais incorporada à produção leiteira envolve a juventude. Os pais oferecem um espaço para que os filhos explorem alguma atividade nas propriedades. “Os jovens passam a ter sua própria renda e não precisam mais vir para as cidades em busca de trabalho. O êxodo é contido e a sucessão rural é garantida”, complementa.
Contra eventuais críticos aos gastos da empresa, Sobrinho responde com uma calculadora. “Investimos R$ 40,6 por cada membro das famílias no campo por mês. É mais barato que o que se gasta com famílias nas ruas. E quem está no campo está produzindo riquezas”, argumenta.
Para 2018, as perspectivas seguem animadoras. A pecuária de leite é tão promissora que impôs a criação de uma feira específica para o setor, realizada em novembro de 2017, no município de Ji-Paraná, a Rondoleite. Ali, cerca de 1 mil produtores foram levados para conhecer as novidades do mercado na produção de alimentos, tecnologia, qualidade genética e crédito. O evento foi um sucesso.