O Brasil conta hoje com mais de 42 mil mortos, vítimas da Covid-19 e 850,5 mil casos de pessoas com o vírus, segundo dados do Ministério da Saúde. Em Rondônia, a Secretaria Estadual de Saúde já contabilizou quase 12 mil casos confirmados de pessoas contaminadas e 309 óbitos, isso até o último sábado (14).
Esse grupo de rondonienses que não resistiu a doença, infelizmente, deixou famílias despedaçadas e pessoas que enfrentam, além da perda e do luto, os olhares de desconfiança e preconceito da população.
A família da servidora pública Francineide da Conceição Oliveira(foto na abertura da matéria), é uma dessas famílias em Rondônia, que nunca mais será a mesma depois dessa pandemia de Covid-19. Ela perdeu o pai, Raimundo Oliveira; o irmão Sebastião Oliveira; e a irmã Maria da Conceição Oliveira. Todos faleceram nos meses de maio e junho.
Ela perdeu o pai, Raimundo Oliveira e a irmã Maria da Conceição Oliveira
O pai, Raimundo, foi o primeiro membro da família a falecer no dia 14 de maio; depois, foi o irmão, Sebastião, no dia 27 de maio; e, por último, a irmã Maria, no dia 03 de junho. Como se não bastassem todas essas perdas, outras pessoas da família também foram infectadas pelo vírus, sendo Francineide uma delas.
Apesar da agressividade com que o coronavírus chegou na família dela, a servidora pública conseguiu resistir e está curada da doença. Mas essa vitória, não está sendo o bastante para que ela e os outros familiares, se livrem de um outro vírus, talvez pior que o coronavírus, trata-se do preconceito.
Francineide conta que além de ter sobrevivido a doença e também sofrer as perdas do pai e dos irmãos, está enfrentando agora, a desconfiança das pessoas. “Eu tenho buscado manter o distanciamento social, mas quando preciso sair vejo que as pessoas temem a aproximação. Eu peguei o vírus e me curei, então estou imune e por isso não me infecto novamente e não transmito mais. Mas acho que a falta de informação, faz com que as pessoas tenham medo do contato”, lamentou.
Ela afirmou que as pessoas nunca falam nada, apenas se afastam ou evitam ter contato. Para fazer frente a essas situações, a servidora tem procurado explicar que já está curada e adquiriu imunidade contra o coronavírus.
Perguntada sobre como vê pessoas negando a Covid-19 ou tratando a doença como um mal menor e que não merece tanta atenção, no sentido de adotar as medidas de prevenção, evitando a aglomeração, ela se diz desapontada. Mas, por outro lado, afirma que tem aprendido muito com toda essa tragédia que se abateu sobre a família dela.
“Me sinto revoltada. Não consigo entender como as pessoas são tão mal informadas e permanecem na ignorância, sendo contaminadas e contaminando outras pessoas. Depois de tudo que vivemos, o sofrimento de estar doente e de perder pessoas tão importantes, aprendi que a vida é um sopro e que devemos dar valor a família. Aproveitar os momentos bons, não dar importância para conflitos e manter a união. Fiquem em casa e se cuidem, a doença é grave e várias vidas já se foram. Ela não escolhe pessoas, é do pobre ao rico”, declarou.
O irmão, Sebastião, conhecido como Sabá, faleceu no dia 27 de maio, vítima da Covid-19
PSICOLOGIA
A psicóloga Anne Cleyanne, explica que o preconceito se manifesta por medo ou receio do desconhecido, onde a pessoa forma uma verdade alheia a realidade em sua mente. “O preconceito só se mantém onde não existe senso crítico e busca de informações de fontes confiáveis, e as pessoas que se recuperam da doença geralmente já passaram cerca de 14 dias com sintomas muito ruins, dores, falta de ar e febre, o que já foi traumático. Na hora da retomada da vida todo esse pré-conceito deixa marcas em seu psicológico”, explicou.
ESPERANÇA
Nos momentos de crise, como o que estamos passando com a pandemia da Covid-19, o medo e o isolamento também fazem com que o ser humano se volte mais para a espiritualidade, buscando forças para superar essas dificuldades.
O pastor Aluísio Vidal afirma que uma das essências do ser humano é a capacidade de ver no outro uma parte de si mesmo onde, essa compreensão do todo nasce da perspectiva de que somos imagem e semelhança do criador.
“Isso gera, então, o princípio da solidariedade entre as pessoas, não apenas por instinto de sobrevivência pessoal, mas também pela certeza de que amar alimenta a alma e gera saúde integral”, observa.
No entanto, diz ele, quando alguma situação disfuncional se interpõe nas relações, o ser humano desumaniza-se e cria barreiras entre uns e outros. “A pandemia do Covide 19 exige de nós que cuidemos uns dos outros, mas esse cuidado não pode nos desumanizar com a barreira do preconceito e da ignorância. Esse é um tempo especial e temos a grande oportunidade de amar, cuidar e proteger um ao outro, lembrando do pressuposto básico do cristianismo que é amar uns aos outros como a nós mesmos”, concluiu.