A câmara de vereadores da cidade de Anguillara Veneta, no norte da Itália, deverá votar na tarde desta segunda-feira uma proposta para conceder o título de cidadão honorário ao presidente Jair Bolsonaro. A iniciativa partiu da prefeita Alessandra Buoso, que nega motivação política, e gerou polêmica na região.
— Pensei nas pessoas do meu país que migraram para o Brasil e construíram uma vida até chegar à Presidência, levando o nome de Anguillara Veneta para o mundo — disse em entrevista à agência de notícias Ansa na semana passada.
A homenagem motivou declarações de indignação por parte de políticos locais, ativistas e até grupos religiosos, já que o político brasileiro é acusado de crimes contra a humanidade e outros delitos pela CPI da Pandemia no Senado. Questionada sobre os crimes imputados a Bolsonaro, Alessandra justificou que não estava ciente das acusações. O relatório final da comissão no Senado brasileiro foi apresentado na quarta-feira passada, mesmo dia em que Alessandra assinou a proposta.
— Não posso entrar na política brasileira. Infelizmente, o momento não foi favorável, até ontem [quarta-feira] eu não sabia [das acusações] — afirmou.
A parlamentar Vanessa Camani, integrante da assembleia legislativa regional do Vêneto, lançou uma campanha nas redes sociais contra o título de cidadão a Bolsonaro. Camani também é membro da direção nacional do Partido Democrático (PD), de centro-esquerda.
“Não à cidadania para um racista, misógino e negacionista. Faz arrepiar a proposta da prefeita de Anguillara Veneta de conferir a cidadania honorária a Bolsonaro, conhecido pelos elogios à ditadura militar, pelo desprezo e ofensas a mulheres e homossexuais, pelas ameaças de prisão aos adversários políticos, ou pelas grotescas acusações contra ONGs pelos incêndios que devastaram a Amazônia”, escreveu a deputada no Facebook na semana passada.
O secretário regional do PD, Alessandro Bisato, também se pronunciou sobre a proposta da prefeitura.
— Tal como aquele soldado japonês na ilha do Pacífico, sem saber do fim das hostilidades, a administração do município na área de Pádua não entende o declínio do populismo — declarou ao jornal Il Fatto Quotidiano, acrescentando: — Pior, pressiona pelo reconhecimento público de um político alérgico à democracia e aos direitos civis, um negacionista da covid-19 e antivacina. Graças à política de Bolsonaro, os brasileiros hoje estão mais pobres, menos seguros e nas garras da covid.
Não conceder honraria.