O aparecimento de peixes mortos boiando nas águas do Rio Branco, na Terra Indígena com o mesmo nome, na Zona da Mata de Rondônia, está tirando o sono das comunidades indígenas, populações tradicionais e agricultores que vivem ao longo do leito do rio, entre Rolim de Moura e Alta Floresta d’Oeste (RO).
O volume de espécies mortas entre a Aldeia Colorado, Aldeia Palhal, Morada Nova e Barranco Alto já teria ultrapassado cinco toneladas. São peixes pintado, pirara, arraia, traíra, tucunaré e outros mais.
A denúncia é do Povo Makurap, da Aldeia Barranco Alto, e do coordenador estadual do Movimento dos Atingidos por Barragens, Océlio Muniz. A região conhece a mortandade de peixes e répteis desde a década anterior. A Funai já foi comunicada e o Ministério Público Federal acionado.
“Precisamos esclarecer a origem desse fenômeno”, apelou Muniz. Ele pede urgentemente ações do Batalhão de Polícia Militar Ambiental, Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental (Sedam), Ibama e ICMBio.
Para o vereador Dalto Tupari (PTB), de Alta Floresta d’Oeste, é urgente saber se houve ou não envenenamento das águas do Rio Branco. “Estamos com essa preocupação há alguns anos, e nunca vimos tanta mortandade de peixe como acontece hoje”, ele alertou.
Os indígenas estão irritados com a situação, pois, até o momento não houve qualquer autorização para o recolhimento de peixes ou das águas, para exames de laboratório.
O grupo Cassol é proprietário de oito pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) no Rio Branco. Para Océlio Muniz, uma das causas da mortandade de peixes pode ser a retenção da água e a falta de oxigênio para os cardumes. A possibilidade é real. A Sedam envia técnico à região ainda hoje, 30.
O fenômeno está ocorrendo durante o vigoramento da portaria do defeso, que abrange pescadores artesanais amadores, os quais, não depredam nem 10% do volume atualmente visto nas águas do rio.
O presidente da Aruana – Ação Ambiental na Amazônia, Fabiano Gomes, também alerta órgãos ambientais no estado para controlar a situação de agressões às águas e à mata ciliar da região.
“A situação preocupa os povos Arikapu, Aruá, Diahoi, Kanoe, Kampe Tupari e Sakibiat”, disse hoje, 30, a ambientalista Luzeny Amaral.
Luzeny Amaral
O grupo de mulheres indígenas da Terra Indígena Rio Branco anunciou que encaminhará denúncia oficial ao Ministério Público, a fim de obter urgentes providências, entre as quais, o exame da água e dos peixes mortos.
A Sedam possui em Porto Velho, na Estrada de Santo Antônio, um laboratório que estuda e informa a qualidade da água em diversas regiões de Rondônia. A professora Cíntia Lauxen, de Rolim de Moura, está organizando o pedido de análises da situação “in loco”, informou Luzeny Amaral.
Anteriormente, conforme relatam, houve coletas de água do rio a pedido do pessoal das PCHs do grupo Cassol, mas nenhuma resposta das análises chegou ao conhecimento deles.
O rio exala um odor fétido, ela conta e acrescenta: “Precisam descobrir o que é, porque as pessoas comem os peixes e, se se for comprovado isso, elas estão sujeitas a contaminação, isso é muito sério”.
Rio Bambu contaminado em 2010
Em 2010, no Rio Bambu, a poluição foi grave. Agravado por friagem, o inflamável gás sulfídrico (H2S) causou a mortandade de peixes, répteis e anfíbios nesse rio, um dos principais afluentes do Rio São Pedro, em Rolim de Moura, a 500 quilômetros de Porto Velho. A nascente dele fica no município de Santa Luzia do Oeste.
Na análise de pH e oxigênio da água coletada do rio encontrou-se um valor de sulfeto acima do recomendado pela Resolução nº 357 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), disse naquela ocasião a nota técnica redigida pela Divisão de Recursos Pesqueiros da Coordenadoria do Meio Físico da Sedam.
O pH expressa a intensidade da condição ácida ou básica de um determinado meio. A resolução do Conama estabelece os parâmetros da qualidade de água doce tipo 1. “O sulfeto, quando solubilizado em água é chamado de gás sulfídrico, incolor, com odor característico a ovo podre. É produto de dejetos animais e humanos”, afirmava o relatório.
As lideranças estão exigindo que o Comitê do Rio Branco apresente relatório das atividades realizadas na primeira gestão.