A Copa do Mundo do Catar talvez seja a primeira deste século que a Argentina chegava sem alguma crise interna. A longa sequência de 35 vitórias e o título da Copa América em plano Maracanã deram tranquilidade para Lionel Scaloni, antes criticado pela inexperiência, navegar em mares calmos até o Oriente Médio. Mas três gols corretamente anulados pelo VAR no primeiro tempo e uma virada desconcertante na etapa final podem fazer o barco argentino naufragar muito antes do esperado.
A derrota por 2 a 1 para a Arábia Saudita nesta terça-feira, no estádio Lusail, tem componentes dramáticos. No papel, os sauditas são os adversários mais fáceis em uma chave que tem ainda México, rival da próxima rodada, e Polônia. Messi pode ter um duelo de vida ou morte com Lewandowski, a maior estrela contratada pelo Barcelona desde sua saída, para evitar uma queda na primeira fase, o que não acontece desde o time estrelado de Marcelo Bielsa em 2002.
Além do futebol, os argentinos terão de controlar o emocional. Lionel Scaloni, que não conseguiu o efeito esperado com suas substituições, olhava para o campo de braços cruzados, mãos no queixo, parecendo não acreditar no placar. Depois do jogo, tentou motivar os atletas, cumprimentando um a um. “La Scaloneta”, como ficou conhecido esse time pelo clima familiar, deixou o campo unida em silêncio, com os jogadores visivelmente incrédulos.
Erros defensivos
Messi abriu o placar logo no início do primeiro tempo, de pênalti, e chegou a balançar as redes outra vez, assim como Lautaro Martínez, mas os gols foram anulados. O ataque argentino ficou então sem saber como não se adiantar à linha defensiva dos sauditas.
Mas o que custou caro foi a demora do sistema defensivo nos dois lances de gol. No primeiro, Cristian Romero acompanha Alshehri, que chutou no canto para empatar. No segundo, um bate-rebate na área fez a bola cair nos pés de Aldawsari, que fez um belo gol, encobrindo Martinez. Três marcadores estava em cima do atacante, que conseguiu girar, ajeitar e chutar.
Pelo lado dos sauditas, além dos gols, destaque para Mohamed Alowais, merecidamente eleito melhor da partida. Ele ajudou a segurar o placar que, ao apito final, nem mesmo os torcedores sauditas pareciam acreditar.