A cerimônia do Oscar 2023 será neste domingo (12/3). Realizada pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, a 95ª edição do evento acontecerá, como de costume, no Teatro Dolby, em Los Angeles, na Califórnia (Estados Unidos). Nesta premiação, a categoria de Melhor Figurino reúne filmes de diferentes gêneros e ambientados em décadas distintas. Estão na disputa as produções Babilônia, Wakanda Para Sempre, Elvis, Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo e Sra. Harris Vai a Paris.
Jenny Beavan, por Sra. Harris Vai a Paris
No Oscar 2022, a veterana figurinista Jenny Beavan ganhou o Oscar pelo live-action Cruella. Renomada, a profissional acumula outras estatuetas por Mad Max: Estrada da Fúria (2015) e Uma Janela para o Amor (1985). Agora, no Oscar 2023, a britânica concorre pelo trabalho no filme Sra. Harris Vai a Paris, do diretor Anthony Fabian.
O enredo é sobre uma faxineira viúva em Londres, na Inglaterra, nos anos 1950. A protagonista tem um sonho em busca de um vestido de alta-costura da Dior. Para Jenny Beavan, foi uma proposta inusitada, já que não é adepta de peças de grife e ignora em grande parte as tendências globais da moda.
Em entrevista à A.frame, a revista digital da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, a costume designer explicou por que topou o desafio. “Se é para lidar com moda, Christian Dior está no topo da minha lista. Acho que ele era um homem tão interessante e quieto e adoro todas as fotos antigas em preto e branco das costureiras trabalhando nos ateliês. Há algo sobre isso que é emocionante, realmente.”
Para o processo de criação do estilo na trama, Beavan usou referências encontradas em uma cópia do livro de padrões da Dior de 1957, incluindo amostras de tecido, esboços de design e fotos. Com isso, a equipe de figurino produziu réplicas de 20 vestidos, ao lado de mais cinco da coleção Heritage, de 1955, recriados na década de 1990 e emprestados à produção. Os looks aparecem no filme em um desfile da haute couture da grife.
“Devo dizer que, originalmente, eu sabia que a Dior faria parte e eu trabalharia ao lado deles, o que achei emocionante”, contou Beavan. “Mas não era nada disso. Eles estavam dispostos a ser extremamente úteis com os arquivos da década de 1950, mas não tinham nenhum dos vestidos. Na verdade, não tinham muito, porque não viam a importância de mantê-los naquela época. Eles fizeram uma coleção, venderam, mudaram para a próxima. Não era algo que eles sequer pensassem”, revelou a figurinista.
Mary Zophres, por Babilônia
Na disputa de figurino no Oscar 2023, também está o filme Babilônia, que traça a ascensão e a queda de múltiplos personagens durante uma era de desenfreada decadência e depravação no início de Hollywood. O longa-metragem, de Damien Chazelle, retrata principalmente uma festa com orgias, drogas e entretenimento estridente.
O figurino é assinado por Mary Zophres, mais conhecida pelo trabalho em La La Land, pelo qual também foi indicada, em 2017, na mesma categoria. Para a trama, a ideia era executar trajes que o público não estivesse acostumado a ver em filmes que se passam na década de 1920.
Um dos destaques é o visual vermelho usado pela atriz Margot Robbie. A personagem, Nellie LaRoy, foi baseada em Clara Bow, estrela da era do cinema mudo. “É poder e sedução em um só lugar. Há uma razão para o vestido vermelho ter essa reputação que precede a si mesmo”, explicou Zophres à Variety.
Babilônia tem Margot Robbie e Brad Pitt como protagonistas
Mary Zophres é a figurinista da obra
Um dos destaques no figurino é o vestido vermelho usado por Margot Robbie
Ruth E. Carter, por Pantera Negra: Wakanda Para Sempre
Em 2019, Ruth E. Carter foi a primeira negra a ganhar o Oscar de Melhor Figurino, pelo trabalho em Pantera Negra, dirigido por Ryan Coogler. Anteriormente, a costume designer já havia sido indicada duas vezes, por Malcolm X (1992) e Amistad (1997).
Na continuação de Pantera Negra, lançada em 2022 e intitulada Wakanda Para Sempre, guerreiros protegem a própria nação das potências mundiais após a morte do rei T’Challa. A temática do luto é abordada na narrativa, como uma homenagem ao legado do ator Chadwick Boseman no papel.
Os trajes do universo heroico by Ruth E. Carter não são óbvios: mesclam elementos da cultura africana a toques modernos. Cheios de cor e com pegada afrofuturista, os looks foraminspirados por tribos africanas, assim como no primeiro filme. Pinturas faciais complementam o repertório. Na sequência, pode-se ver alfaiataria e peças esportivas, com direito a uma colaboração com a Adidas. A figurinista também expandiu o universo subaquático para Talokan.
“Todas as emoções voltaram e foi muito difícil”, disse Carter à W Magazine sobre assistir ao filme Wakanda Forever pela primeira vez. “Mas então, na segunda vez, eu vi com um público de fãs e fiquei muito orgulhosa das reações aos figurinos e aos personagens. Eu apenas sentei e fui no passeio de Wakanda Forever. Foi incrível.”
Catherine Martin, por Elvis
O figurino de um filme biográfico envolve uma extensa pesquisa da vida real, para sintetizar a essência de uma pessoa que existiu de fato. No caso de Elvis, longa de Baz Luhrmann, a figurinista Catherine Martin também é creditada como produtora e diretora de arte. Ela já ganhou quatro estatuetas e assinou figurinos de hits como Moulin Rouge (2001) e O Grande Gatsby (2013).
A costume designer precisou traçar uma conexão fidedigna entre a realidade e a interpretação criativa. “Tratava-se de tentar sentir e contar a história, ou nossa interpretação da história, da forma mais verdadeira e respeitosa possível”, disse Martin à Variety.
No total, foram mais de 90 trocas de roupas apenas para o protagonista. Não faltaram jaquetas de couro, conjuntos de alfaiataria com calças amplas e cores descontraídas, além de camisas de renda e lenços.
Na produção, Miuccia Prada emprestou a visão apurada para resgatar o vintage em itens que ajudam a contar a história da lenda do rock ‘n’ roll. A estilista italiana, diretora criativa da Prada e da Miu Miu, era amiga do casal e colaborou no filme.
A própria Priscilla Presley aprovou o esforço da equipe de figurino. “O estilo de Priscilla era extremamente sofisticado. Não desejávamos apenas copiar, sem fazer jus. Queríamos que a Olivia, no filme, parecesse tão sofisticada hoje quanto Priscilla era nos anos 1950, 1960 e 1970”, contou Catherine Martin à Elle.
Shirley Kurata, por Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo
Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo é um dos filmes mais comentados na atualidade e um forte concorrente na cerimônia do Oscar 2023. No enredo, uma chinesa radicada nos Estados unidos se envolve em uma aventura em que só ela pode salvar o mundo. Para isso, explora outros universos que se conectam com os destinos que ela poderia ter levado, moldados de acordo com atitudes e experiências do passado que podem mudar o rumo da história.
O figurino é de Shirley Kurata, que está concorrendo pela primeira vez à estatueta. Na obra, o objetivo foi respeitar as diferentes gerações, momentos históricos e realidades sociais representadas por meio do vestuário, já que uma personagem passa por variadas vidas paralelas.
Para o visual etéreo de Jobu (Stephanie Hsu) no Universo Bagel, por exemplo, a figurinista criou um mix entre monarquia e ficção científica, com pitada de metaverso. “Eu queria um pouco de ligação com a realeza histórica, mas de uma maneira sci-fi”, detalhou em entrevista à The Hollywood Reporter. Para Evelyn Wang (Michelle Yeoh), Kurata adquiriu roupas da Chinatown de Los Angeles, onde a personagem realmente poderia ter comprado as próprias roupas.
“Pode-se ver as influências da moda do Ocidente”, apontou Kurata. A figurinista quis incorporar a propensão dos imigrantes asiáticos para mesclar tradição e capricho com praticidade. “Eu amo essa mistura.”
Oscar 2023
Em geral, no Oscar 2023, o longa Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo lidera a lista de nomeações. Entre as 11 categorias indicadas, estão Melhor Filme, Melhor Direção (Daniel Kwan e Daniel Scheinert) e Melhor Atriz (Michelle Yeoh).
A segunda posição de mais chances na disputa ficou com o filme de guerra Nada de Novo no Front, que faturou nove indicações, empatado com Os Banshees de Inisherin. Na disputa, também vale destacar Elvis e Os Fabelmans, que concorrem a oito e sete estatuetas, respectivamente.