A crise financeira de um dos maiores grupos de construção da China, o Evergrande, colocou a economia mundial em alerta e já está sendo chamado de Lehman Brothers chinês. Lehman Brothers foi o banco que faliu e deu início à crise financeira de 2008. O reflexo da crise da gigante chinesa está sendo sentido em todo o mundo, com as Bolsas atingindo altas quedas em seus pregões.
Para especialistas, o reflexo da crise vai atingir toda a economia mundial, mas não com tanta força como a do Lehman, que era um banco de investimentos, com operações com diversas instituições e em vários países. Só que desta vez, temos o agravante da pandemia da Covid-19 que deve amplificar o impacto desta crise financeira.
Para especialistas, a situação pode ser ainda mais caótica para os países emergentes que têm muitos negócios com o país asiático, como é o caso do Brasil, que tem a China e os Estados Unidos como seus principais parceiros comerciais.
Alison Correia, CEO da Top Gain, afirma que um dos pontos que deixou o mercado mais tenso nesta segunda-feira (20) foi que a Evergrande chamou os mesmos consultores do Lehman Brothers.
“O governo chinês deve ajudar, mas não pagando a dívida da uma incorporadora. Talvez possa tentar financiar parte de dívida da empresa, comprar título podre para ir estancando a sangria”, avalia. Para o executivo, “não tem como não sentir (os efeitos da crise) e os (países) emergentes vão sofrer”.
O tamanho deste sofrimento é o que causa preocupação. A crise é muito grande e existe a possibilidade de colapsar o sistema financeiro chinês ou que a economia do país asiático não tenha a expansão esperada. A China é um dos maiores importadores mundiais de commodities e quem vende para o mercado chinês vai sentir o reflexo.
“O (mercado de) minério de ferro já estamos sentindo – que é o risco sistêmico indireto. Na dúvida, não compro, não expando. Hoje (o minério de ferro) está sendo negociado abaixo de US$ 100 por tonelada, algo que não era visto há mais de um ano”, diz Correia.
O especialista destaca que a Evergrande está tentando renegociar, oferecendo imóveis para pagamento, mas o risco de default (quando uma empresa não paga suas dívidas) é grande. “O calote já está dado como certo. Agora é ver como vão conseguir estancar (o efeito cascata)”, explica o executivo.
Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo, concorda que há um problema sério de default e que as consequências podem começar muito em breve. “Primeiro ponto de preocupação é para economias que dependem da China, que vão sofrer o impacto, e o Brasil se enquadra nisso”, diz. Franchini lembra que estamos falando do risco de uma das maiores economias do mundo diminuir o nível de crescimento, isso somado ao fato que as grandes economias do mundo não estão se recuperando como era esperado.
“Esse ponto específico, que poderia ficar local, impacta toda a economia do mundo. Tanto a questão de gestão da empresa, como também não sabermos quais serão os próximos passos do governo chinês”, finaliza.
Evergrande
Fundada em 1996, a segunda maior incorporadora chinesa assina projetos de construção em 280 cidades, tem uma subsidiária no mercado de veículos elétricos, uma empresa de mídia, um parque de diversões e um time de futebol, o Guangzhou Evergrande e vinha em escalada de crescimento.
Só que a expansão da companhia veio acompanhada por um grande endividamento, estimado em mais de US$ 300 bilhões em débitos abertos, com juros rolando acima da capacidade de pagamento.
A Evergrande tem se esforçado para levantar fundos para pagar seus muitos credores, fornecedores e investidores, com os reguladores alertando que seus passivos podem gerar riscos mais amplos para o sistema financeiro do país se não forem estabilizados.
As ações da chinesa Evergrande caíram nesta segunda-feira (20) para mínimas de 11 anos, à medida que se aproxima o prazo para vencimento de uma dívida e crescem os temores de calote. A ação fechou em queda de 10,2%, depois de cair 19% para seu nível mais fraco desde maio de 2010.
“As ações continuarão caindo porque ainda não há uma solução que pareça ajudar a empresa a aliviar o estresse de liquidez, e ainda há muitas incertezas sobre o que ela fará no caso de reestruturação”, disse Kington Lin, diretor de gestão de ativos da Canfield Securities.
O Banco do Povo, o banco central e o órgão de supervisão bancária da China, convocaram os executivos da Evergrande em agosto e alertaram sobre a necessidade de reduzir riscos de dívida e de priorizar a estabilidade.
A Evergrande tem que pagar US$ 83,5 milhões em juros em 23 de setembro. Ela tem outro pagamento de juros de US$ 47,5 milhões com vencimento em 29 de setembro. Ambos os títulos entrariam em default se Evergrande não liquidar os juros dentro de 30 dias das datas de pagamento programadas.
Em qualquer cenário de inadimplência, a Evergrande precisará reestruturar os títulos, mas os analistas esperam um baixo índice de recuperação para os investidores.
O estresse também tem pressionado o setor imobiliário mais amplo, bem como o yuan, que caiu para uma mínima de três semanas de 6,4831 por dólar. As ações da Sunac, quarta maior incorporadora imobiliária da China, caíram 10,5%, enquanto a Greentown China, apoiada pelo Estado, caiu 6,7%.