Com mais de 70 anos, a antiga residência oficial dos governadores de Rondônia é um espaço que ajuda a contar a história do estado desde os tempos do território federal. Transformada em Memorial Jorge Teixeira na década de 1990, a charmosa casa na região histórica do Centro de Porto Velho abriga um grande acervo sobre a vida do Teixeirão e é reaberta nesta quarta-feira (5).
A professora e historiadora Yeda Borzacov conheceu o ex-governador de perto quando trabalhava no território e foi designada pelo próprio Jorge Teixeira para cuidar do Museu da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré.
Ela conta que a casa foi pensada pelo ex-governador Araújo Lima, que foi o primeiro morador. “A casa foi construída no fim da década de 1940 com a finalidade de servir de residência oficial para os governadores do território federal do Guaporé”, explica.
Os visitantes da casa são recebidos pela estátua do coronel, que antes ficava no canteiro central da avenida que leva o nome dele na capital, e Yeda fez questão que fosse levada para o memorial. A historiadora revela que sempre que chega à casa, “conversa” com o antigo amigo.
“Quando eu chego, eu digo ‘bom dia, coronel, está satisfeito de estar na tua casa?’”, brinca a professora.
A varanda frontal da casa já é um primeiro ponto de parada dos turistas para fotos. Dela se tem a vista do Rio Madeira até a Usina Hidrelétrica Santo Antônio. Na entrada da residência há um grande cômodo que era a sala de estar e hoje expõe os primeiros momentos de Jorge Teixeira em Rondônia, com itens como uma foto da sua posse no governo, por exemplo.
No centro da casa, há um jardim de inverno, visto também do escritório de trabalho, entre a sala principal e a suíte.
O maior quarto da casa, onde dormiam os chefes do executivo estadual, também tem varandas individuais com vista para o Madeira e o Centro da capital. Junto à suíte há um closet e um grande banheiro. No total, a casa tem seis quartos.
Nos corredores e quartos de visitas, estão expostas fotos de obras realizadas no governo Jorge Teixeira, como a drenagem e asfaltamento das principais vias de Porto Velho, novos prédios para os órgãos públicos do estado e a recuperação de 25 quilômetros de trilhas da estrada de ferro, em 1982.
A cozinha, já construída na reforma feita pelo coronel antes de se mudar para a casa, ainda tem o fogão e móveis usados pelo primeiro governador do estado, além de fotos das arrumadeiras e do mordomo que serviram o governador.
“Quando o governador Teixeira aqui chegou, a casa estava muito estragada, muito mesmo. Então ele foi para o conjunto Cujubim enquanto havia uma reforma na casa. Após a reforma ele veio morar aqui”, lembra Yeda.
O quintal da residência oficial é um dos lugares mais agradáveis. Cobertos por grandes árvores, caminhos de pedras levam a uma piscina com fonte e uma churrasqueira, usadas nos momentos de lazer dos governadores.
Jorge Teixeira de Oliveira chegou em Rondônia em 10 de abril de 1979, nomeado pelo presidente João Figueiredo, com a missão de preparar o território federal para ser transformado em estado.
A instalação do Estado de Rondônia aconteceu em 1982 e Teixeirão ficou até 1985, quando foi exonerado pelo então presidente José Sarney. Ele morreu dois anos depois, no Rio de Janeiro.
Nesta quarta-feira, um desfile em frente a casa marca a reabertura do local para visitação. A solenidade promovida pelo Exército Brasileiro marca o aniversário de 98 anos do coronel, que seriam completados no último dia 1°.
“A casa tem uma significação enorme. Ela documenta e divulga uma parte da história de Rondônia, que é a transformação do território em estado e registra a história do ‘Homem chamado trabalho’, o homem que com seus atos e ações realizou um trabalho fantástico. Todos nós temos que conhecer”, afirma Yeda.
O último morador da residência foi o ex-governador Ângelo Angelim, que ficou no poder até 1987.
Após a morte do ex-governador, um grupo de amigos e ex-assessores teve a ideia de criar um memorial para guardar as lembranças do governador e o local escolhido foi a casa ocupada por ele.
A casa recebeu visitas de importantes autoridades do país, como o presidente Figueiredo e o Ministro Mário Andreazza, que hoje dá nome a um município de Rondônia.
Salomão Arlindo trabalha na casa há 13 anos e recebe os turistas e estudantes interessados na história da casa, que chama a atenção de quem passa pela rua José do Patrocínio.
“O pessoal fica encantado, afinal é uma ‘casona’ bonita, mas falta atenção dos poderes. Ninguém faz projeto ou destina recursos pra fazer uma reforma”, lamenta
Foram encontrados documentos, fotos e outros itens do acervo guardados nos guarda-roupas da casa sem cuidados de conservação. Segundo Yeda, faltam investimentos na preservação do local e também servidores para que o memorial fique aberto a tarde e nos fins de semana. Os reparos necessários para a reabertura foram realizados pelo Exército.
O Memorial Jorge Teixeira vai ficar aberto de segunda a sexta-feira das 8h as 12h. A casa fica na rua José do Patrocínio esquina com Euclides da Cunha no Centro de Porto Velho.