Eu estava lá, vi com meus próprios olhos o Wellinson ser apresentado na igreja, com cabelos ajeitados, roupas limpas e asseado. Ele foi apresentado como “o ex-Sarita da 7”, sob vibrantes glórias, aleluia e amém. Mas, parecia não estar ali. Aparentava alheio, desligado de tudo e de todos… parecia ainda perdido. Na oportunidade, fui em sua direção, mentalizando palavras de estímulo para lhe dizer, mas, ao me aproximar, resumi a um aperto de mão. Ele mal me olhou. Qualquer um conseguiria ver que o Wellinson estava precisando de ajuda psiquiátrica; e que banho, comida e roupa limpa não eram suficientes para deixá-lo bem.
E naquela condição, teria ele capacidade para uma decisão consciente sobre mudança de vida? Cresci numa sociedade evangélica cristã. Portanto, reconheço a importância do papel espiritual da igreja no processo de restauração de pessoas ditas “perdidas” e “sem solução”, pessoas da rua como Sarita da 7.
Mas, também entendo que a igreja precisa reconhecer os seus limites Prova que Wellinson não estava bem, é que, mesmo acolhido pelos irmãos evangélicos, e inserido numa rotina de cultos na igreja, um dia ele fugiu intencionando voltar para a antiga vida nas ruas.
Membros da igreja se mobilizaram e conseguiram reencontrá-lo e o levar de volta. Mas, não demorou muito para o Wellinson voltar a ser a Sarita da 7, no seu habitat de origem: as ruas. E agora, infelizmente, está morto.
O mesmo fim que teve outros como Roberto Braga (da D. Pedro II), Espingarda (da porta do Banco do Brasil)… que precisavam de uma urgente intervenção médica. Talvez, eu e você também poderíamos ter ajudado. Mas, agora é tarde.
* Lucas Tatuí é jornalista