Águas turvas, fauna subaquática agressiva, pressão atmosférica. Não são poucos os desafios dos bombeiros mergulhadores de Rondônia, mas a missão de salvar vidas é o que move esses profissionais que neste período que inicia o verão amazônico estão em alerta redobrada.
No ano passado, segundo levantamento da Coordenação de Operação de Ensino e Instrução (COEI) do Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Rondônia, foram registradas 39 ocorrências de afogamento em Rondônia. Neste ano já chegam a 24.
‘‘Aumentam os afogamentos porque nós temos vários rios, lagos e balneários e muitas vezes por empolgação ou mesmo ao ingerir bebida alcoólica a vítima ignora as orientações de segurança’’, avalia diretor de Inteligência e Assuntos Estratégicos, o capitão BM Douglas Samuel de Araújo.
Nos últimos anos, os bombeiros mergulhadores receberam equipamentos modernos para prestar um trabalho mais preciso, seguro e ágil à sociedade. De acordo com o capitão BM Douglas Samuel de Araújo, o governo de Rondônia investiu mais de R$ 600 mil entre 2015 e 2016 na aquisição de equipamentos para mergulhos.
Entre eles cinco Kits de Mascara Full Face com comunicação subaquática, dez sonda portátil medidora de profundidade; 20 roupas secas para mergulho em águas contaminadas; 80 roupas úmidas para mergulho, também 80 botas para mergulho; 10 ferramentas para manutenção de equipamentos de mergulho; 90 máscaras para mergulho autônomo; 80 nadadeiras reguláveis para mergulho; 33 capacetes para salvamento aquático; 20 pranchetas de pulso. Mais 60 coletes equilibrador para mergulho, duas mil cordas de nylon; 20 levantadores de peso submerso; 80 facas de mergulho e 16 conjuntos reguladores de 1 e 2 estágio. Esses itens são considerados estratégicos para dar mais segurança ao desafiante trabalho de salvamento em rios e lagos do Estado.
E um novo pregão foi realizado este ano para aquisição de mais equipamentos como sistemas de cilindros, mais roupas secas, sistema de células de ar e computadores de mergulho. ‘‘Estamos avaliando qual atende nossas necessidades técnicas’’, afirma.
Os equipamentos ajudam os mergulhadores a superarem as dificuldades da missão de salvamento e resgate de vítimas e bens submersos. ‘‘Nossa grande dificuldade em Rondônia é a falta de visibilidade, mas agora com as máscaras full face, que tem o diferencial que ela vem com um sistema de comunicação, os mergulhadores conseguem se comunicar entre eles e também com os que estão na superfície’’, disse.
A fauna subaquática é exuberante mas também pode ser muito perigosa. ‘‘Os peixes, principalmente do rio Madeira, são muito agressivos como o candiru e poraquê, além dos jacarés. O que representa um risco para as vítimas, para a preservação dos corpos que precisamos resgatar e para os próprios mergulhadores’’, aponta o capitão que é bombeiro mergulhador desde 2011.
Os mergulhadores também precisam superar com ajuda dos equipamentos os riscos de contaminação devido à decomposição de corpos submersos. ‘‘As roupas secas isolam biologicamente o mergulhador do ambiente contaminado’’, assegura o capitão esclarecendo ainda que a máscara e um capuz completa a segurança do profissional.
‘‘Nós melhoramos bastante porque antes nós operávamos com equipamentos classificado como autônomo, recreativo e hoje nós já passamos a operar com equipamentos voltados ao mergulho de segurança pública que é a máscara full face, roupa seca, a sonda de varredura para verificar a profundidade que os mergulhadores estão submersos e fazer o cálculo de autonomia. São equipamentos caros, mas necessários”, avalia o capitão.
REFERÊNCIA
O coordenador de Recursos Humanos do CBM, tenente coronel Nivaldo de Azevedo Ferreira, bombeiro mergulhador há 22 anos, disse que os equipamentos modernos eram um anseio da categoria e a aquisição deles faz o Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Rondônia referência para outros estados.
‘‘Está programado para 20 de setembro o nosso curso de mergulho e já temos seis estados solicitando vagas para formar profissionais aqui em Rondônia pelos equipamentos que nós temos e pela situação que vivenciamos sendo um estado do Norte do país. Amazonas, Pará, Tocantins; Mato Grosso, Pernambuco e Bahia devem estar conosco nesse curso e o comandante geral vai ceder duas vagas para cada estado desses’’, garante.
Inclusive o curso, segundo o tenente coronel Nivaldo, contará com uma câmara hiperbárica. É um equipamento que fica na superfície e ao entrar nela a sensação é de estar mergulhando em um rio.
‘‘Quando nos ficamos muito tempo no fundo do rio respirando por cilindro nós acumulamos nitrogênio nas correntes sanguíneas e se nós subirmos muito rápido e tivermos com ar no pulmão essas bolhas vão aumentando e chega a entupir as artérias e essa câmara hiperbárica quando você entra nela a pressão diminui e as bolhas diminuem também. Ela é usada inclusive para tratamento de queimaduras e até de câncer’’, explica.
Segundo coordenador de Recursos Humanos, a câmara hiperbárica custa cerca de R$ 450 mil e está prevista para chegar a instituição até o final deste ano.
Além disso, os bombeiros mergulhadores de Rondônia vão adquirir dois kits cada um com dois cilindros que permite que o mergulhador passe um dia no fundo do rio sem que falte ar para respirar. ‘‘Somos um dos primeiros estados a adquirir esses kits e eles vão está no curso’’, afirma.
Os equipamentos representam avanço no resgate de vítima e bens submersos. ‘‘Agora sim nós temos equipamentos de ponta. Antigamente se você se enrolasse lá em baixo em pedaço de tronco não tinha como fazer contato com quem ficava lá em cima, agora nós já temos comunicação subáquatica. Tudo isso vem para dar mais segurança ao nosso trabalho’’, disse o ajudante geral do CBM/RO, capitão Audir Brierihl.