O pop-it, brinquedo de silicone flexível que virou febre entre as crianças, principalmente depois da pandemia, passou a ser encarado como um alvo dos conservadores nas últimas semanas.
Um pastor publicou um vídeo no YouTube relacionando o “fidget toy” às cores da bandeira LGBTQIA+ e acusando o movimento de querer destruir a família. Nas redes sociais, outros apoiadores repetiram a associação do brinquedo ao movimento. Alguns vídeos tiveram mais de 100 mil visualizações.
Em entrevista ao jornal O Globo, o carioca Rafael, comentou sobre a recusa de sua filha, Manoela, de 7 anos, ao brinquedo. A criança, filha de uma mãe evangélica, desistiu do pedido que havia feito ao pai. “De repente, ela começou a falar que o pop-it é do diabo, que é para separar a família. Fiquei aterrorizado. A criança é pura, não tem esse tipo de maldade. Ninguém pode ficar colocando isso na mente dela”, desabafou Rafael. “É só um brinquedo de plástico que está na moda, para se divertir”.
Outra entrevistada pela publicação, Anete Vieira, disse que já havia relacionado o brinquedo às cores da bandeira LGBT+ antes mesmo da publicação do pastor. Ela é mãe de Elias, 6 anos, e da bebê Adele. Segundo a dona de casa, não há problemas no brinquedo, mas preferiu comprar um de cor única.
“Tenho orientação cristã, então tenho critérios para oferecer brinquedos ao meu filho. Acredito que tudo tem uma teoria, uma ideologia. O pessoal do marketing trabalha em cima dos símbolos, das cores. Se não coaduno com os mesmos ideais, por que apresentar para meu filho?”, disse Anete, que mora em Barreiras e congrega na Igreja Adventista do Sétimo Dia.
Outro frequentador da mesma igreja, Anderson Vian, discorda da fala do pastor. Para ele, as cores do pop-it remetem ao arco-íris, a “aliança que Deus fez com Noé e seu povo para mostrar que não mais acabaria com o mundo por meio de um dilúvio”. Vian tem dois filhos e liberou o brinquedo na sua casa.
O presidente do Conselho Regional de Psicologia do Rio, Pedro Paulo Bicalho, disse que as cores de um brinquedo não modificam a relação da criança com ele. “É mais uma das invenções que tem a ver com negacionismo, com esse momento esquisito que estamos vivendo. Essa é uma faixa etária que ainda não se constituiu a partir da égide do preconceito. Essas pessoas não têm ideia de como uma criança se desenvolve”, discutiu.
A fabricante do brinquedo se disse surpreso com a polêmica e que não acredita que isso vá atrapalhar o negócio, que já vendeu mais de 200 mil unidades desde agosto. ”Isso é besteira. Não vai mudar nada para a gente. Nossa linha de negócio continua: produzir produtos bons”, disse Gonzaga Pontes, diretor da Luka Plásticos, que é a primeira a lançar a versão brasileira do objeto.