A ossada de um bebê foi encontrada, nesta segunda-feira (18), durante escavações na comunidade do Pilar, no Bairro do Recife. De acordo com a prefeitura da capital, esse achado arqueológico urbano é o maior do país. Segundo os pesquisadores que localizaram dezenas de esqueletos enterrados na área, a descoberta pode trazer revelações sobre quem foram os primeiros recifenses.
Localizado na quadra 25, o bebê foi enterrado por cima de outro esqueleto, de um adulto, que foi sepultado antes. Havia ainda resquício de um pedaço de metal que fazia parte do caixão, algo novo nas escavações realizadas no local. Pelo menos, 13 pregos de ferro que estavam nele foram localizados.
As descobertas chamam a atenção e atraem profissionais voluntários. A bioarqueóloga Cláudia Cunha, da Universidade Federal do Piauí (UFPI), trabalha com a equipe da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), responsável pela pesquisa. Ela é especialista em ossos humanos.
Usando uma metodologia chamada antropologia do terreno, Cláudia levanta dados no próprio local e preenche a ficha antropológica, incluindo as medidas do esqueleto. Após medir a tíbia, um dos ossos que ficam abaixo dos joelhos, ela concluiu que era um bebê com idade entre quatro e seis meses.
Segundo a especialista, não foi possível identificar se a ossada encontrada era de um menino ou de uma menina. Cláudia contou que o crânio teria sido esmagado por pressão e ela acredita que a presença de animais e raízes de plantas interferiram na cova.
“Nesse caso, essa área está se revelando em um cemitério próximo do perfil da população natural. Estamos achando adultos, crianças, homens, mulheres. O que dá a entender é que é um cemitério em um nível mais recente do que o anterior e que inclui um perfil mais variado da população”, afirmou Cláudia.
Somente quando o esqueleto do bebê for retirado, o que está previsto para ocorrer até a terça-feira (19), a análise passa a focar na ossada do adulto encontrado junto com ele. Enquanto isso, ao lado dele, outro adulto foi enterrado em uma direção totalmente diferente da do enterro do bebê.
Nessa área, a equipe da UFRPE encontrou dez esqueletos e os restos de outros cinco. Os pesquisadores esperam achar mais ossadas, pois as escavações realizadas até então não atingiram um metro de profundidade.
Os arqueólogos querem saber se esSe cemitério da quadra 25 é da mesma época que o da quadra 55, escavada anteriormente.
A pesquisadora Ana Nascimento, do Núcleo de Pesquisa Arqueológica da UFRPE, afirmou que saiu o resultado da análise de amostras de dois esqueletos retirados da quadra 55 e enviados para um laboratório nos Estados Unidos.
Nessas amostras, foi realizada a datação por radiocarbono, capaz de determinar a época da morte. Uma delas não apresentava colágeno, o material necessário para o estudo, mas a outra tinha. “Ele morreu em um período em torno do final do século 16 e início do século 17”, contou Ana.
Os pesquisadores pretendem mandar mais amostras para os Estados Unidos e seguir escavando, pois têm certeza de que há muito o que encontrar no local.
Alguns deles acreditam que a quadra 55 era um cemitério militar, onde os corpos eram de homens com idades entre 17 e 25 anos e onde estavam todos enterrados com os pés para o lado do mar.
Sítio arqueológico urbano
Dentro de uma área histórica e turística, foi descoberto o que é chamado, pela prefeitura do Recife, de maior achado arqueológico urbano do país. Mais de 40 mil fragmentos de objetos diversos e mais de 100 ossadas foram encontradas na comunidade do Pilar, além de vestígios do Forte de São Jorge, um dos mais antigos do Brasil.
A pesquisa arqueológica na área, que é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), seguiu a determinação necessária para executar o projeto de construção de um conjunto habitacional que abrigaria 420 famílias.
Foram feitas várias escavações e os arqueólogos encontraram, sob a Igreja do Pilar, vestígios do forte construído para lutar contra os invasores holandeses e milhares de fragmentos de objetos que não deixam dúvida de que o lugar já era habitado centenas de anos atrás, segundo os especialistas.
Os fragmentos contabilizados entre 2014 e 2020 eram de cerâmicas, peças de jogos, tijolo holandês, garrafas de bebidas, perfume, remédio, moedas, bala de canhão, escova de dente e ossadas.
O local também abriga vestígios do que pode ser o maior cemitério arqueológico já encontrado no Brasil, segundo a prefeitura do Recife. Há indícios de que pessoas mortas na guerra e vítimas de doenças, como a cólera e gripe espanhola, que matou mais de quatro mil recifenses, entre os séculos 16 e 20, podem ter sido colocadas no cemitério.