A esposa de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, Cynthia Giglioli Herbas Camacho, acusou a Penitenciária Federal de Brasília de fornecer comida estragada e imprópria ao marido dela. Marcola é apontado como chefe do Primeiro Comando da Capital (PCC), uma das principais organizações criminosas do país.
Em uma carta, Cynthia diz que se manteve por muito tempo quieta, por temer pela integridade física dela e de Marcola. Entretanto, não estava mais aguentando ver a situação do marido na cadeia, que segundo ela, está passando fome. No documento, ela diz que a penitenciária é a única que fornece comida estragada e/ou imprópria para consumo, e quando a comida não chega estragada, “é escassa e de má qualidade, ocasionando por diversas vezes infecção intestinal nos presos”.
No caso de Marcola, ela relata que o chefe do PCC teve de ser levado ao hospital para a realização de exames — um dos exemplos ocorreu em 4 de agosto, em ida ao hospital regional de Santa Maria. Cynthia relata que o marido chegou a perder 20kg na cadeia, e que não recuperou a perda por conta da comida oferecida.
“Entendemos que tem diversas pessoas no mundo passando fome, o Estado está fornecendo comida, ainda que pouca, e de fome ele não vai morrer! Mas a verdade é que o dinheiro é do Estado e tem que ser fiscalizado, nesse caso, pra onde vai o dinheiro que seria destinado aos custodiados pelo Estado?”, questiona Cynthia na carta. “Nós familiares não queremos que sirvam lagosta, e sim, apenas uma comida possível de ser comer”, reforça.
Para ela, o marido está sofrendo tortura na cadeia, e que está preocupada com a saúde mental de Marcola, já que o chefão do PCC “nunca sai da cela para o banho de sol, apenas para visita que ocorre uma vez por semana”.
Solidão
Na carta escrita por Cynthia e despachada pelos advogados de Marcola, a esposa relata que dentro da Penitenciária Federal de Brasília, o marido foi isolado em uma cela só para ele. Na unidade, Marcola tem de “vizinho” outros três presos, mas que ele prefere não ter contato.
Cynthia relata que, quando detido na Penitenciária Federal de Porto Velho (RO), Marcola tinha a vivência de estar acompanhado de um outro preso na ala, cujo era chamado por ele de “pistoleiro”. No entanto, o próprio Marcola confidenciou à esposa que não queria ter contato com este indivíduo, evitando ter proximidade durante os banhos de sol. Indesejavelmente, Marcola relata que ele e “pistoleiro” foram transferidos juntos para Brasília, e que se convivem em celas separadas, mas não distantes.
No texto, Cynthia também confessa que, quando vê o marido nas visitas, tem percebido Marcola pálido, com as mãos trêmulas. Ela relata que chega a enviar cartas dela e dos filhos ao marido, mas que ele não recebe nenhuma dessas correspondências.
O Correio entrou em contato com o Ministério da Justiça e Secretaria Nacional de Políticas Penais, responsável pela penitenciária, mas até o momento da publicação desta matéria não tivemos resposta.
Volta a Brasília
Depois de passar por um período em Porto Velho, onde ficou por 11 meses, Marcola retornou a Brasília, em janeiro deste ano, após a descoberta de um plano de resgate do chefão do PCC. O anúncio, na época, foi feito pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, que justificou a medida como necessária para impedir a possível operação de comparsas para libertar Marcola. “A transferência foi feita de um presídio federal para outro exatamente visando prevenir um suposto plano de fuga ou resgate desse preso. Portanto, essa operação se fez necessária para garantir a segurança da sociedade”, afirmou.
O chefe da organização criminosa está condenado a mais de 300 anos de prisão. A transferência de Marcola de Porto Velho para Brasília foi coordenada pela Secretaria de Políticas Penais do Ministério da Justiça e realizada sob forte esquema de segurança.