Um dia após o Ministério da Economia divulgar que a criação de vagas formais de trabalho, em abril, ficou abaixo da expectativa, com a abertura de 120,9 mil postos com carteira assinada, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresentou números recordes de trabalhadores procurando emprego — quase 15 milhões — e de pessoas que caíram no desalento, ou seja, que gostariam de trabalhar, mas desistiram de continuar a busca. São seis milhões nessa condição.
De acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), o total de desempregados no trimestre encerrado em março último alcançou 14,8 milhões — o maior patamar da série histórica do IBGE iniciada em 2012. Isso representa aumento de 1,956 milhão de pessoas sem um trabalho fixo ou formal, ou de 15,2%, sobre o total de desocupados no mesmo período de 2020, que era de 12,9 milhões.
Diante disso, a taxa de desemprego ficou em 14,7% da força de trabalho contabilizada na pesquisa, de 100,4 milhões de pessoas. O percentual ficou levemente acima da projeção do mercado, de 14,6%, e foi o maior em qualquer base de comparação trimestral do IBGE na série histórica.
Na avaliação do economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, o dado não surpreende, porque revela a realidade do país: endividadas, as empresas não conseguem manter os empregados e, com isso, cai o número de postos de trabalho, formal e informal. “A taxa de desemprego a ser observada é a da Pnad. Ela é mais coerente com a realidade do que está acontecendo no país em mais de um ano de pandemia”, disse.
Segundo Vale, o cenário para quem procura emprego não deverá melhorar muito neste ano, nem no próximo, apesar das recentes projeções otimistas de crescimento da economia.
“Todo mundo fala e, de fato, ainda vai acontecer uma terceira onda da covid-19, e o empregador, que está endividado, vai ter que fechar ou demitir”, alertou. “O emprego formal e o informal estão caindo, e não vejo melhora a curto prazo. A taxa de desemprego, no fim do ano, deverá continuar acima de 14% e, no ano que vem, em torno de 13% ou um pouco abaixo, mas ainda muito alta.”
A economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria, lembrou que o desemprego recorde apontado na Pnad reflete, em parte, os efeitos sazonais do mercado de trabalho e as restrições ao funcionamento das atividades por conta da segunda onda da pandemia.
Para ela, no entanto, a maior resiliência da atividade econômica esperada para este ano e a renovação de políticas anticíclicas, com destaque ao programa do Benefício Emergencial para a Manutenção do Emprego e da Renda (BEm), reeditado no fim de abril, “devem permitir maior geração de vagas, amenizando a pressão dos desocupados sobre o mercado de trabalho”.
Pelas estimativas da consultoria, que prevê expansão de 4% no Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, a taxa de desemprego continuará alta neste ano, encerrando dezembro em 14%, “tendo em vista o elevado contingente de inativos no país (e em situação de desalento), com perspectivas de buscarem colocação após maior controle da pandemia”.
Subutilizados
Além do número recorde de desempregados e desalentados, os dados do IBGE mostram que a taxa de subutilização ficou em 29,7%, totalizando 33,2 milhões de pessoas. E que o desemprego foi puxado pelas regiões mais pobres, que registram números acima da média nacional.
No Norte e no Nordeste, as taxas de desocupação ficaram em 14,8% e 18,6%, respectivamente.
Mulheres, negros e pardos enfrentam mais dificuldades para arrumar emprego. Apesar de serem a maioria da população em idade de trabalhar, as mulheres são minoria entre as pessoas ocupadas (43,3%). No primeiro trimestre, a taxa de desemprego ficou em 12,2%, para os homens, e em 17,9%, para as mulheres.
Elas também representavam 54,5% da população que está em busca de emprego. É o caso da bióloga Amanda Mendes Pereira, 25 anos, que está há um ano e meio procurando vaga na sua área, sem muito sucesso. “Como ainda moro com meus pais, não estou passando dificuldades, porém é desmotivador”, afirmou.
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