Um homem negro foi espancado até a morte por dois homens brancos em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, na noite desta quinta-feira (19), véspera do Dia da Consciência Negra, em uma unidade do supermercado Carrefour. Os acusados pela morte de João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, presos em flagrante, eram um segurança da unidade e um policial militar.
https://youtu.be/TEdZs9VcGFg
As imagens do espancamento foram registradas em vídeo e circulam nas redes sociais. A investigação trata o crime como homicídio quallificado e, segundo apuração da Brigada Militar, como é chamada a Polícia Militar em Porto Alegre, as agressões começaram após desentendimento entre o homem negro que acabou vítima do espancamento e uma funcionária do Carrefour, que fica no bairro Passo D’Areia, na Zona Norte da capital gaúcha. A Brigada Militar diz que a vítima teria ameaçado bater na funcionária do supermercado, que então chamou a segurança.
Detidos e presos em flagrante por homicídio qualificado, os agressores tinham 24 e 30 anos e eram brancos. Um deles era segurança de uma empresa terceirizada no Carrefour e o outro, policial militar “temporário”, que foi levado para um presídio militar.
Em nota, o Carrefour informou que lamenta profundamente o ocorrido, diz ter iniciado rigorosa apuração interna dos fatos e ter tomado providências para que os responsáveis sejam punidos legalmente pelo assassinato do homem identificado como João Alberto Silveira Freitas. A rede de supermercados chamou ato de criminoso e anunciou rompimento do contrato com a empresa de segurança.
A Brigada Militar, também em nota, informou que o PM é “temporário” e estava fora de seu horário de trabalho. O comunicado diz ainda que suas atribuições são limitadas à “execução de serviços internos, atividades administrativas e videomonitoramento” e “guarda externa de estabelecimentos penais e de prédios públicos”. Não ficou claro, em nenhum momento, o que ele fazia no mercado no momento em que espancou até a morte a vítima.
Após discussão com funcionária, vítima foi levada para área externa
Após o caso, na madrugada desta sexta-feira (20), a Polícia Civil ouviu testemunhas e apurou que Freitas, a vítima, teria sido levado da área de caixas do supermercado para a entrada da loja e, então, iniciado a briga dando um soco no PM. Após isso, ele foi jogado no chão e surrado pelos dois homens, que em momentos do vídeo aparecem por cima dele.
A polícia vai analisar as imagens do vídeo que circula nas redes sociais, em que é possível ver dos homens vestindo roupa preta, o que aparenta ser o uniforma dos seguranças do Carrefour, dando socos no rosto da vítima, já jogada no chão. Uma mulher próxima a eles parece filmar as agressões com um celular. A Polícia Civil diz que, além desse vídeo, também vai analisar as câmeras de segurança do local.
Já com sangue espalhado pelo chão do lado de fora da unidade do Carrefour, outras pessoas aparecem em volta da vítima, enquanto os dois agressores continuam seguem em cima dele, o espancando mesmo sem nenhuma reação.
Uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) tentou reanimar Freitas depois do espancamento, mas ele morreu no local. O crime está em investigação pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Porto Alegre.
O que dizem Carrefour e a Brigada Militar?
“O Carrefour informa que adotará as medidas cabíveis para responsabilizar os envolvidos neste ato criminoso. Também romperá o contrato com a empresa que responde pelos seguranças que cometeram a agressão. O funcionário que estava no comando da loja no momento do incidente será desligado. Em respeito à vítima, a loja será fechada. Entraremos em contato com a família do senhor João Alberto para dar o suporte necessário.
O Carrefour lamenta profundamente o caso. Ao tomar conhecimento deste inexplicável episódio, iniciamos uma rigorosa apuração interna e, imediatamente, tomamos as providências cabíveis para que os responsáveis sejam punidos legalmente. Para nós, nenhum tipo de violência e intolerância é admissível, e não aceitamos que situações como estas aconteçam. Estamos profundamente consternados com tudo que aconteceu e acompanharemos os desdobramentos do caso, oferecendo todo suporte para as autoridades locais” , diz o Carrefour.
Já a BM diz que “Imediatamente após ter sido acionada para atendimento de ocorrência em supermercado da Capital, a Brigada Militar foi ao local e prendeu todos os envolvidos, inclusive o PM temporário, cuja conduta fora do horário de trabalho será avaliada com todos os rigores da lei. Cabe destacar ainda que o PM Temporário não estava em serviço policial, uma vez que suas atribuições são restritas, conforme a legislação, à execução de serviços internos, atividades administrativas e videomonitoramento, e, ainda, mediante convênio ou instrumento congênere, guarda externa de estabelecimentos penais e de prédios públicos. A Brigada Militar, como instituição dedicada à proteção e à segurança de toda a sociedade, reafirma seu compromisso com a defesa dos direitos e garantias fundamentais, e seu total repúdio a quaisquer atos de violência, discriminação e racismo, intoleráveis e incompatíveis com a doutrina, missão e valores que a Instituição pratica e exige de seus profissionais em tempo integral”.