São Paulo – Até ser preso nessa terça-feira (11/7) em um condomínio de luxo em Pernambuco, Odair Lopes Mazzi Junior, o Dezinho, de 42 anos, era um dos principais braços direitos de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder máximo do Primeiro Comando da Capital (PCC), nas ruas.
Integrante da chamada Sintonia final da rua, Dezinho, que estava foragido desde 2020, recebia de Marcola missões a serem cumpridas fora do sistema carcerário. Na hierarquia da facção, ocupava um cargo altíssimo, conquistado por poucos no mundo do crime. Antes de ser alçado ao topo do comando, no entanto, pertenceu ao terceiro escalão do PCC.
De acordo com as investigações realizadas durante a Operação Sharks, deflagrada pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP), Dezinho ascendeu ao topo da pirâmide do crime ao coordenar o envio de R$ 1,2 bilhão do PCC para o Paraguai em 2019, por meio do esquema de “dólar cabo”, uma técnica de lavagem de dinheiro.
Na ocasião, ele atuava no setor financeiro do PCC, chamado de Sintonia final do progresso, o terceiro escalão do maior grupo criminoso do país.
O esquema levantado pela Operação Sharks incluía a movimentação por meio de contas bancárias de “laranjas” e empresas fantasmas, além da distribuição de parte do valor para “casas-cofres”. A função dessas casas é armazenar o dinheiro que, mais tarde, é levado para doleiros. Um desses imóveis, em Santo Amaro, na zona sul de São Paulo, teria sido adquirido por ordem de Dezinho.
Na época, Dezinho ainda era responsável por receber a maioria das cargas de cocaína que chegava à capital e à Baixada Santista. Em liberdade, subiu na hierarquia e foi destacado para atuar na expansão do PCC pela América Latina – motivo pelo qual ganhou a alcunha de Argentina.
Em 2021, o MPSP identificou Dezinho como um dos gerentes do PCC na Bolívia, ao lado de Valdeci Alves dos Santos, o Colorido. Segundo as investigações, ele liderou o transporte de mais de 15 toneladas de cocaína por ano.
Com a prisão de Colorido, capturado em Salgueiro, no sertão de Pernambuco, em 2022, e o desaparecimento de Marcos Roberto de Almeida, o Tuta, a relevância de Dezinho no tráfico internacional aumentou ainda mais.
As “sintonias”
As sintonias do PCC são lideradas por membros, chamados de irmãos, “batizados” pela facção. Diferentemente das máfias, em que laços familiares respaldam os contatos e as relações dos criminosos, no PCC o que importa é a função de cada membro, como em uma empresa.
Uma das principais é a Sintonia dos 14, responsável por receber demandas encaminhadas pelos “disciplinas” e deliberar sobre o destino das pessoas.
O número 14 faz referência aos 14 líderes que compunham a antiga Sintonia final, no presídio de Presidente Bernardes, interior de São Paulo. A sintonia dos 14 se divide em “dos estados” e “das regiões.”
A Sintonia da rua apoia membros da facção que estão desamparados nas ruas, geralmente os que saíram recentemente do sistema carcerário.
As ações de inteligência, investigação e planejamento da facção ficam a cargo da Sintonia restrita. Seus alvos são, geralmente, agentes públicos.
As sintonias têm influência no território paulista e em outras regiões do país.
A estrutura da Sintonia paulista se divide em “geral” (responsável por decisões em todo o país), “dos estados” e “das regiões” (que coordena as ações da facção em diferentes regiões de cada estado).
Há, ainda, a Sintonia geral final de São Paulo. Nesse núcleo, a capital paulista é subdividida em sintonias nas zonas norte, sul, leste e oeste. De acordo com o MP, as sintonias também estão presentes na região metropolitana, no litoral, interior, em outros estados brasileiros e, inclusive, fora do Brasil.