Caso avance, a operação envolverá cifras bilionárias. Oficialmente, a Globo, a J&F e o banco BTG negam a informação. No sábado, em comunicados curtos e diretos, todos desmentiram o envolvimento na transação.
“São absolutamente falsas as ilações publicadas hoje pelo jornal Correio da Manhã. Não há nem nunca houve qualquer intenção de venda do Grupo Globo por parte de seus acionistas”, diz a nota do grupo Globo. “O BTG Pactual nega que esteja intermediando a compra do Grupo Globo pela J&F”, informa o banco. O desmentido da J&F é ainda mais sucinto: “A J&F também nega estar negociando a compra do Grupo Globo ”.
A J&F é controladora do Frigorífico JBS — empresa de capital aberto com ações negociadas em bolsa. Para evitar sanções administrativas e, eventualmente, multas milionárias, um negócio desse porte precisa obedecer a alguns procedimentos padronizados antes de se tornar público.
Deve, inicialmente, ser comunicado com antecedência à Comissão de Valores Mobiliários e gerar uma informação de “Fato Relevante” ao mercado. Além disso, o fato de alguns negócios estarem ligados a concessões públicas exigiria uma aprovação prévia do governo federal antes da venda ser concluída.
Interesse antigo
Informações não oficiais, no entanto, dão como certo o interesse da J&F, que estaria disposta a pagar R$ 25 bilhões pela emissoras de TV, jornais, emissoras de rádio e plataformas de streaming do grupo Globo. A cifra não espanta e poderia até crescer em “alguns bilhões” caso o preço venha a ser um empecilho para a conclusão do negócio.
Líder mundial em produção de proteína animal, a J&S tem um faturamento anual superior a R$ 200 bilhões. Uma das razões pelas quais o martelo não teria sido batido, pelo menos por enquanto, seria o interesse da família Marinho, controladora da Globo , em manter sua autoridade sobre a área de jornalismo do grupo. Pelo menos até o desfecho das eleições de 2022.
O interesse da família Batista por uma posição que lhe garanta influência na mídia não é uma novidade. Em 2014, Joesley Batista , um dos donos do J&S , chegou a avançar nas negociações para a compra do jornal O Estado de S. Paulo e dos Diários Associados.
Na época ele fez, também, uma proposta formal para compra do SBT, do empresário Sílvio Santos. Nenhuma das tentativas foi adiante. A possível presença no negócio do BTG Pactual, de André Esteves, a princípio apenas como intermediário da transação, também reforça a possibilidade do negócio.
Ousado, impetuoso e sempre atento às chances de expansão de seus empreendimentos, Esteves tem interesse especial pela comunicação e pelo prestígio e poder de influência que, em sua visão, a mídia confere aos empresários do setor. Esse interesse teria aumentado depois de janeiro de 2015, quando o banqueiro foi preso, acusado de tentar obstruir a Operação Lava Jato.
Nenhuma das acusações contra ele se mostrou verdadeira e o caso, inclusive, chegou a ser mencionado pelo ministro Gilmar Mendes no plenário do STF como uma injustiça cometida contra Esteves e seus negócios.
Em março de 2019, livre de todas as acusações, Esteves adquiriu a revista Exame, título de economia e negócios da Editora Abril. O banco também financiou a compra da Veja e de outras revistas da Abril, que entrou em declínio depois da morte de seu presidente, Roberto Civita, pelo empresário Fábio Carvalho. No mercado, é voz corrente que Carvalho agiu em nome de Esteves — idealizador da operação.
Outro aspecto chama atenção nesse episódio. Habituado no passado a intermediar operações financeiras vultosas, o BTG Pactual sempre teve os olhos voltados para a área de mídia eletrônica.
No mês passado, a operadora Oi assinou com o banco de Esteves e com a Globonet um acordo que lhes assegura exclusividade na condução da venda de suas operações de fibra óptica, reunidas na empresa InfraCo . O valor mínimo do negócio seria de R$ 20 bilhões.
Caso se confirme, a compra da Globo pela J&S representaria o retorno triunfal do BTG Pactual ao mercado de fusões e aquisições, no qual ele foi especialmente ativo entre 2009 e 2017. Naquele período, a área estava sob responsabilidade do banqueiro Marco Gonçalves. Homem de confiança de Esteves, Marcão, como é conhecido, foi sócio do BTG Pactual depois de ter acumulado prestígio como “head” da área de Fusões e Aquisições do banco Crédit Suisse.
Considerado um dos maiores especialistas brasileiros em M&A (sigla em inglês para Fusões e Aquisições), foi ele quem assessorou a Oi e seus acionistas controladores nas grandes operações que realizaram no Brasil no período em que ele era o braço-direito de Esteves. Dono de uma personalidade polêmica, mas muito bem relacionado e bem sucedido em suas operações, foi ele quem negociou, por exemplo, a entrada da Portugal Telecom na Oi e, depois, a venda das operações da empresa em Portugal para a europeia Altice.
Depois de deixar o BTG no rastro de um episódio rumoroso, Marcão fundou a Riza, que atuava na área de fusões e aquisições. Em dezembro passado, a XP adquiriu a Riza e ele tornou-se o responsável pela área de M&A da empresa de investimentos.