A madrugada deste domingo (25/11/2019) em uma das mais badaladas casas noturnas de Goiânia terminou com um casal homossexual e um lutador de boxe em uma delegacia, conduzidos por policiais militares.
O chef de cozinha Cezar Souza, de 26 anos, contou ao delegado plantonista Dayvison Pedrosa que foi agredido com socos e ofensas homofóbicas pelo estudante de Agronomia Artur J., de 21 anos, na boate que fica no setor Marista, bairro de classe média alta goianiense.
Cezar repetiu ao Metrópoles que foi agredido assim que trocou carícias com um rapaz que conheceu na boate. Antes, no entanto, ele havia sido apresentado ao agressor, com quem ganhou o que chamou de “liberdade para brincar” enquanto bebiam e assistiam ao show de um cantor sertanejo.
“Parecíamos íntimos. Mas foi quando abracei o meu companheiro que fui agredido com gritos de ‘viado’ e ‘gays’. Fui levado para o banheiro e acordei vomitando. Tinha levado vários socos”, lembra.
Por telefone, Artur se defendeu. “Ele pegou na minha parte íntima. Disse que eu tinha uma bunda bonita. Eu apenas me defendi desse abuso sexual que sofri”, argumentou.
A vítima assume que teve liberdade para “brincar” com Artur, mas não confirmou nem negou ter tocado no corpo do boxeador. “Não entendo. Se ele se sentiu abusado, por que foi me agredir cerca de uma hora depois de quando a gente estava abraçado? E por que agrediu o meu companheiro também?”
Inicialmente, Cézar não queria dar entrevistas, mas foi convencido pelo advogado Lucas Marcelo, seu defensor. “Em pleno século XXI, ainda existe essas barbaridades. Tomamos providências na esfera criminal e tomaremos providências na área cível”, disse.
O chef de cozinha ainda lembra que o agressor disse para o companheiro que ele tem voz de “viado”. “Isso é característica de homofobia. Como ele parte para cima da gente? Qual o motivo de um lutador me bater? Nada justifica uma agressão assim. Se ele se incomodasse [com as atitudes], deveria ter chamado os seguranças.”
Com dores, Cézar foi ao médico fazer exames. Na tomografia computadorizada do crânio a que a reportagem teve acesso, foi constatado uma lesão na “região frontotemporal extracraniana à esquerda”. “Estou com a cabeça dolorida. A médica me disse que vou sentir esse incômodo por uns dois meses”, lamenta.
Com 13 mil seguidores no Instagram (dois dias depois das agressões passou a 20 mil), Artur decidiu tirar sarro com a situação assim que chegou à delegacia, quando estava sendo acusado de homofobia. Em uma saleta onde detidos são levados por policiais e militares na Central de Flagrantes, fotografou a parede pichada e escreveu na legenda: “Boa noite… Só para quem dormiu bem essa noite”. E colocou emoticons de gargalhadas.
Quando conversou com o Metrópoles na tarde de quarta-feira (27/11/2019), Artur demonstrou preocupação com possíveis consequências negativas à imagem, que poderia prejudicá-lo na intenção de participar de um Reality Show, que diz ser um sonho.
Quando foi procurado pela reportagem, Artur disse, primeiramente, que não daria entrevista, mas voltou atrás para alegar que teria sido abusado pelo gastrônomo. “Não sou qualquer um na boate, sou primo do dono. Não quero fama porque sou bombado [com 20 mil seguidores] no Instagram”, diz.
Ele ainda classificou os questionamentos sobre o caso como “mimimi”. “Se não reajo, eu teria sido estuprado. Não sei qual a índole da pessoa que queria me estuprar. Eu sei que estou certo. Perdi minha razão. Sou um cara de boa, sou fazendeiro. Se me chamarem de homofóbico de novo vou denunciar. Sei que vocês editam o que estou falando. Tenho muitos amigos homossexuais, cada um tem sua opção. Eu só não aceito uma pessoa falar que sou gostoso, que tenho uma bunda grande, que sou bonito”, disse.
E ainda disse que, se pudesse, faria de novo. “Pode me processar dez, vinte vezes. Vou ganhar essa causa. Exijo respeito recíproco. Estou de boa. Preocupação zero. Futuramente vou fechar contratos. Se me chamarem de homofóbico vai atrapalhar minha carreira”, preocupa-se e arremata: “Tanta coisa mais importante para ir atrás e você vem atrás de mim.”
Artur pagou R$ 1 mil de fiança e foi liberado. Enquanto a vítima das agressões estava no hospital para avaliar dores na cabeça, o estudante foi para um bar e fez uma live no Instagram. “Comemorando a liberdade”, disse, rodeado de amigos, todos visivelmente constrangidos.