Na última semana, a Petrobras anunciou um aumento de R$ 0,22 por litro no preço do diesel, o que promete ter um efeito cascata na economia brasileira, principalmente no transporte rodoviário de cargas. O reajuste pode resultar em um impacto de 2% a 2,5% no valor do frete, refletindo diretamente nos preços de produtos essenciais encontrados nos supermercados, farmácias e lojas por todo o país.
De acordo com Lauro Valdivia, assessor técnico da NTC&Logística, o aumento no preço do diesel anunciado pela Petrobras deve levar cerca de duas semanas para chegar às bombas. “Mas a gente já estima, pelo valor da Petrobras, que vai ser mais ou menos de 2% a 2,5% a mais no frete só desse último aumento”, afirmou Valdivia.
O Brasil é altamente dependente do transporte rodoviário, que é responsável por mais de 65% da carga nacional. Esse cenário faz com que todos os produtos, como alimentos, medicamentos e outros bens de consumo, cheguem aos centros urbanos através das rodovias. Por isso, o aumento do preço do diesel, combustível essencial para os caminhões que realizam esse transporte, tem um efeito direto na inflação e no custo de vida da população.
O coordenador dos Índices de Preços do FGV Ibre, André Braz, destacou a complexidade em medir com precisão o impacto do aumento do diesel nos preços dos produtos. “O diesel é um combustível estratégico, tem impacto na inflação, mas é muito complexo medir o quanto isso vai bater em cada produto, o quanto isso vai aumentar o preço de cada produto, e quando isso tende a aparecer na inflação ao consumidor”, explicou Braz.
O repasse do aumento do diesel aos preços dos produtos ocorre de maneira gradual. A variação nos preços dos fretes é determinada por contratos fixos, com renegociação anual. No entanto, caminhoneiros autônomos, conhecidos como freelancers, devem repassar o custo mais rapidamente, à medida que abastecem com o combustível mais caro.
Além de ser usado no transporte de mercadorias, o diesel também é fundamental para outras áreas, como na operação de máquinas agrícolas, na geração de energia elétrica por usinas termelétricas e no transporte urbano de passageiros. Portanto, o impacto do aumento do diesel não se restringe apenas ao transporte de cargas, afetando diretamente a inflação ao consumidor.
A dependência do transporte rodoviário no Brasil, que é responsável por mais de 65% da produção nacional, torna o diesel um componente crucial no custo dos produtos. “O efeito indireto do diesel na inflação é muito grande. Qualquer alimento que você consuma em um grande centro urbano chegou lá via transporte rodoviário, [seja] um pacote de arroz ou mesmo um carro”, afirmou Braz.
O economista também observa que a parcela do diesel no preço dos produtos varia de acordo com o valor agregado de cada item. Os alimentos, por exemplo, têm uma maior dependência do diesel em relação a produtos como eletrodomésticos, eletrônicos e carros, que também são transportados por caminhões.
Lauro Valdivia, especialista da NTC&Logística, aponta que, embora o país possa investir em alternativas de transporte, como cabotagem (navegação ao longo da costa) ou ferrovias, as rodovias continuarão sendo essenciais para a distribuição de produtos. “Mesmo que o país invista mais em outras modalidades de transporte, as rodovias ainda serão importantes para levar os produtos até os locais de consumo”, concluiu Valdivia.
O aumento no preço do diesel, portanto, é mais um reflexo da dependência do Brasil ao transporte rodoviário, que influencia diretamente no custo de vida da população e nas margens de lucro de empresas em todo o país.
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
