O desmatamento na Amazônia Legal voltou a crescer nos primeiros seis meses de 2025. Segundo dados divulgados nesta sexta-feira (11) pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter) registrou 2.090,38 km² sob alerta de desmatamento no período. O número representa um aumento de aproximadamente 27% em relação ao mesmo período de 2024, quando o índice ficou em 1.645,94 km².
A Amazônia Legal é uma área que corresponde a cerca de 59% do território brasileiro, abrangendo oito estados — Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins — além de parte do Maranhão. É a primeira vez que os alertas sobem nesse intervalo desde o início do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Os dados, monitorados pelo Deter, consideram alterações na cobertura florestal maiores que 3 hectares (0,03 km²), incluindo áreas totalmente desmatadas e regiões em processo de degradação por queimadas, exploração madeireira, garimpo ilegal, entre outros fatores. Como a metodologia depende da visibilidade por satélite, os números podem ser ajustados posteriormente com base na cobertura de nuvens observada durante o período.
Junho tem menor número da série histórica, mas nuvens podem esconder realidade
Apesar do aumento no acumulado do semestre, junho de 2025 teve o menor número de alertas para o mês desde o início da série histórica do Deter: 458 km². No entanto, esse dado precisa ser analisado com cautela, pois junho também registrou o maior índice de cobertura de nuvens, o que pode ter mascarado parte da devastação real.
De acordo com os dados consolidados, três estados concentraram a maior parte dos alertas no mês de junho: Mato Grosso, Pará e Amazonas, que juntos somaram mais de 400 km² sob risco. O Mato Grosso sozinho foi responsável por 206 km², quase metade do total registrado no mês.
Mato Grosso lidera desmatamento no semestre
No acumulado dos seis primeiros meses de 2025, o Mato Grosso também encabeça a lista dos estados com maior devastação, registrando 1.097 km² de área desmatada — um salto de 141% em relação ao mesmo período de 2024. Especialistas apontam que a alta significativa pode estar relacionada a pressões políticas e a expectativas de enfraquecimento das normas ambientais no estado.
A porta-voz de Florestas do Greenpeace Brasil, Ana Clis Ferreira, afirma que o aumento pode ser reflexo da insegurança quanto à continuidade de políticas como a Moratória da Soja, além da ameaça de aprovação do Projeto de Lei 2159/2021, conhecido por ambientalistas como “PL da Devastação”. A proposta pode flexibilizar regras de licenciamento ambiental, favorecendo o avanço do desmatamento.
“A Moratória da Soja tem sido central para conter o avanço da destruição na cadeia produtiva, mas está sendo atacada. E o PL da Devastação pode piorar ainda mais a situação, ao facilitar a expansão do desmatamento”, alertou Ferreira.
Propriedades privadas concentram maioria dos alertas
De acordo com o levantamento do Deter, 43,5% dos alertas de desmatamento em junho ocorreram em propriedades privadas, o que equivale à maior parcela da devastação. A tendência se repete no acumulado do semestre: até 27 de junho, 795 km² de floresta foram derrubados em terras particulares, o que representa 39% do total, um crescimento de 81% na comparação com os 439 km² registrados no mesmo período de 2024.
Além das propriedades privadas, quase 40% do desmatamento entre 1º e 27 de junho ocorreu em áreas sem definição clara de uso: 17,5% em florestas públicas não destinadas e 21,4% em terras sem registro fundiário.
MMA aponta influência dos incêndios e da seca extrema
Em nota oficial, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) atribuiu o aumento de alertas principalmente à temporada atípica de incêndios entre agosto e outubro de 2024, agravada pelas mudanças climáticas globais e pela seca severa que atinge a Amazônia há dois anos consecutivos.
Segundo a pasta, as áreas classificadas como “desmatamento com vegetação” cresceram 266% no primeiro semestre de 2025 em comparação com o mesmo período do ano anterior. Por outro lado, o “desmatamento com solo exposto” se manteve estável e registrou o menor nível dos últimos cinco anos.
O MMA destaca ainda que, sem os impactos provocados pelos incêndios do ano anterior, o desmatamento no primeiro semestre de 2025 teria caído 1,5% em relação a 2024.
Acompanhe mais conteúdos diários no Jornal Rondônia – O seu jornal eletrônico Rondoniense!
Foto: luoman/iStockphotos Foto: luoman/iStockphotos