A Polícia Federal (PF) – com o apoio do Ministério Público Federal (MPF) e da Receita Federal – realizou ontem (15/02), a maior operação do ano contra a rede criminosa que apoia o garimpo ilegal de ouro na Amazônia legal. , 27 mandados de busca e prisão domiciliar em 12 cidades, incluindo Brasília, e a prisão de duas pessoas — em Belém e Santarém, no Pará. Um terceiro suspeito com mandado de prisão em aberto não foi localizado.
Batizada de Sisaque (nome do faraó egípcio), a operação mobilizou 100 agentes da PF e apreendeu bens e ativos de pessoas físicas e jurídicas no valor de cerca de R$ 2 bilhões. A investigação mostra que o esquema de compra, venda e exportação de ouro movimentou mais de R$ 4 bilhões entre 2020 e o final do ano passado, com 13 toneladas do metal sendo contrabandeadas.
Uma investigação lançada pela PF revela o envolvimento de uma empresa com sede nos Estados Unidos que seria responsável pelo transporte de ouro para países da Europa como Suíça e Itália e da Ásia como Emirados Árabes Unidos e China via Hong Kong. O ouro extraído ilegalmente para sair do Brasil passa por um processo de “aquecimento” da documentação envolvendo financiadores, embarcadores, pequenas empresas de fachada responsáveis pela emissão de notas fiscais frias e empresas maiores que fazem a exportação.
Para a PF, essas empresas maiores mandam em todo o sistema penal. “Uma maneira de conseguir isso era criar reservas de ouro fictícias para encobrir grandes quantidades de minério sem provar a proveniência legal”, disse a empresa em comunicado.
Além das ações em Brasília, Belém e Santarém, policiais federais foram a endereços em São Paulo, Goiânia, Manaus, Boa Vista, Rio de Janeiro, Itaituba (PA), Tatuí (SP), Campinas (SP) e Sinop ( MT). Segundo a PF, a lista de crimes é extensa: “Aquisição e/ou venda de ouro obtido com usurpação de bens da União sem autorização legal e em desacordo com as obrigações impostas pelo título autorizativo; prospecção, mineração ou extração de um recurso mineral sem a devida autorização, permissão, concessão ou licença; lavagem de dinheiro; e organização criminosa”.
Ofensiva
A Operação Sisaque faz parte da mobilização do governo federal para reprimir o garimpo na Amazônia, inclusive na terra do povo indígena Yanomami, em Roraima, responsável pela tragédia humanitária que assola as comunidades indígenas locais. Na terça-feira, a PF já cumpria 16 mandados de busca e apreensão em São Paulo, Goiás e Roraima como parte da Operação Avis Aurea (latim para Golden Bird).
A polícia encontrou dólares e diamantes no endereço de um dos suspeitos. Segundo a PF, a quadrilha enviou dinheiro para Boa Vista que servia para comprar ouro extraído de garimpos ilegais em um esquema que pode movimentar R$ 422 milhões em cinco anos. Uma das empresas suspeitas de participar de uma rede criminosa foi investigada pela corporação após a descoberta de 111 kg de ouro em um avião apreendido em Goiânia.
A estrutura que alimenta a cadeia de mineração, comércio e exportação do ouro amazônico é extensa e inclui, além de funcionários da administração pública, uma ampla rede logística que conta com a participação de empresários e políticos afins, que permite o transporte do metal até o cidades do Sudeste e Centro-Oeste. No sentido inverso, o dinheiro obtido pelos financiadores era repassado em pequenos aviões e em terra por motoristas contratados pelas quadrilhas.
A investigação da Avis Aurea começou depois que a Polícia Rodoviária Federal (PRF) apreendeu mais de R$ 4 milhões em dinheiro em um veículo parado em Cáceres (MT), com destino a Boa Vista. No último dia 10, a PF cumpriu ordens de busca e apreensão na capital Roraima contra pessoas suspeitas de lavagem de dinheiro com garimpo ilegal. Entre os alvos estavam Vanda Garcia de Almeida e Fabrício de Souza Almeida, respectivamente irmã e sobrinho do governador de Roraima, Antônio Denarium (PP). Outros parentes do governador, cujos nomes não foram divulgados, também estão sendo investigados.