Uma barreira deslizou no Recife nesta terça-feira (7) e deixou um adolescente morto e seis pessoas feridas. Com mais esse óbito, subiu para 129 o número de mortes provocadas pelas chuvas em Pernambuco (confira outros números da tragédia no final desta reportagem).
O deslizamento aconteceu às 4h20, nas ruas José Amarino dos Reis e Vencedora, no bairro Alto Santa Terezinha, na Zona Norte da capital pernambucana, após uma noite e uma madrugada de chuvas, que também causaram alagamentos e transtornos no Grande Recife e na Zona da Mata do estado.
Lucas Daniel Nunes da Silva, de 14 anos, foi socorrido para a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) de Nova Descoberta, na Zona Norte do Recife, mas chegou sem vida ao local, às 6h20, segundo a assessoria da unidade de saúde.
Mais seis vítimas foram resgatadas sob os escombros, sendo três pelos bombeiros e outras três por vizinhos, todas elas com vida. Entre os socorridos por moradores da área, havia duas irmãs, Elivaneide Nunes da Silva, a mãe de Lucas Daniel, e Elivânia Nunes da Silva, tia do adolescente morto.
Cinco casas foram atingidas pelo deslizamento da barreira, segundo informações apuradas pela equipe de reportagem no local. Mais de 20 bombeiros, em cinco viaturas, trabalharam no resgate das vítimas nessa ocorrência, que foi finalizada às 6h50.
Equipes do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e da Defesa Civil do Recife também foram acionadas. Entre os feridos socorridos pelos bombeiros, além de duas mulheres de nomes e idades não divulgados, está um homem de 43 anos identificado como Marcos Pereira.
“Era um senhor que estava com uma fratura na perna, mas conseguimos fazer a remoção e entregamos ao Samu”, disse o capitão do Corpo de Bombeiros, José Jorge.
Marcos foi socorrido para o Hospital da Restauração (HR), no bairro do Derby, na área central do Recife. De acordo com a unidade de saúde, o paciente deu entrada às 7h28 desta terça-feira.
“Ele teve uma fratura exposta na tíbia e fíbula, além de fraturas no braço esquerdo e quadril. Foi para unidade de trauma, estabilizado, fez uma tomografia e, em seguida, encaminhado para o bloco cirúrgico ainda pela manhã”, disse o hospital, por meio de nota.
Até a última atualização desta reportagem, não havia informações sobre os locais para onde as duas mulheres feridas no deslizamento foram socorridas.
A barreira que deslizou não tinha lona de plástico. Segundo moradores ouvidos pela TV Globo, essa não foi a primeira vez que um deslizamento ocorreu no local, pois uma barreira deslizou no ano de 1993, provocando sete mortes.
Relato de testemunhas
Uma das pessoas que chamaram o Corpo de Bombeiros para resgatar as vítimas onde a barreira deslizou foi uma amiga da família de Lucas Daniel que não se identificou para a reportagem.
“Era 4h10 quando eu vi deslizando. Na mesma hora, liguei [para os bombeiros]. Quando foi 5h, chegou Samu e o bombeiros depois. Quando começou a chover muito, fiquei sem sono olhando para barreiras e foi quando eu vi. Muito horrível a cena de você ver. Escutei um estrondo muito grande, parecia um trovão”, disse a mulher.
Um morador que também não se identificou para a TV Globo afirmou que o deslizamento ocorreu rapidamente e relatou que foi acordado pelo barulho da barreira deslizando.
“Eu estava dormindo com a minha esposa e só escutei aquela zoada. Foi muito rápido, quando eu apareci, ainda peguei um pedaço da casa desmoronando. Imediatamente, chamei um vizinho e a gente subiu correndo para tirar as pessoas que estavam dentro. Tinha sete pessoas, três foram socorridas, porque ficaram soterradas, mas a gente conseguiu fazer o resgate antes de os bombeiros conseguirem chegar”, declarou.
Cunhada da mãe de Lucas, uma mulher identificada como Fabiana também contou o que presenciou no local. “Escutei um barulho enorme e, quando olhei pela janela, a barreira perto da [casa da] minha cunhada tinha deslizado. Quando subi para ver o estrago, tinha sido muito grande”, falou.
Meteorologia
A Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac) publicou um novo aviso meteorológico, por volta das 4h desta terça-feira (7), alterando o estado de observação, que equivale a um risco moderado, para o estado de atenção, que corresponde a um risco moderado a alto.
Ainda segundo a Apac, a previsão indica “continuidade de pancadas de chuvas de intensidade moderada a forte” para o Grande Recife, o Agreste e a Zona da Mata Sul de Pernambuco. Uma barreira deslizou e deixou feridos em Tamandaré, na Zona da Mata.
A Defesa Civil do Recife orienta a população que mora em áreas de risco a procurar locais seguros e afirmou que mantém um plantão permanente, que funciona 24 horas e pode ser acionado através de uma ligação gratuita para o número 0800.081.3400. Saiba como acionar a Defesa Civil de outros municípios do Grande Recife.
Resposta da prefeitura
O prefeito do Recife, João Campos (PSB), fez duas postagens nas redes sociais, falando sobre o desastre, e prestou solidariedade à família do adolescente que morreu.
“Esta é uma dor que atinge a todos nós. O momento é de luto. As chuvas devem continuar ao longo de todo o dia de hoje. Quem mora em área de risco deve buscar um local seguro ou um dos abrigos da prefeitura. A situação ainda exige toda atenção”, disse.
Em nota, a prefeitura do Recife disse que a Escola Ricardo Gama vai abrigar, temporariamente, as famílias atingidas por esse deslizamento. “O atendimento será integral, com oferta de acolhida para dormir, alimentação, assistência social, de saúde e mental, aplicação de vacinas, realização de consultas e oferta de medicamentos e receitas”, declarou.
Ainda no comunicado, a gestão municipal afirmou que equipes da Assistência Social foram ao local para prestar apoio às famílias atingidas e contou que a Defesa Civil atua na avaliação do risco das casas para interditar as que não apresentam mais condição de habitação no momento.
A prefeitura também falou que oferece 18 locais em funcionamento provisório como abrigos e pontos de apoio, sendo nove unidades de ensino municipais.
O site também perguntou à prefeitura se havia avaliação de risco da barreira que deslizou e o porquê de as pessoas não terem sido retiradas das casas, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.
Tragédia
Deslizamentos de barreiras e alagamentos provocados pelas fortes chuvas que atingiram o Grande Recife, a Zona da Mata e o Agreste de Pernambuco no final de maio já tinham provocado 128 mortes, o que faz desse desastre o segundo maior ocorrido no estado. Além dos óbitos, a tragédia deixou 61.596 desalojados e 9.631 desabrigados.
O desastre deixou 37 cidades pernambucanas em situação de emergência. Ao todo, 54 municípios foram atingidos pelas chuvas. O balanço foi divulgado, no domingo (5), pela Coordenadoria de Defesa Civil do estado (Codecipe).