Taxa de suicídio aumenta 111% no mês mais letal da pandemia em RO

Março de 2021 foi mês mais letal da pandemia em Rondônia e também foi o mês com o maior registro ...

Por G1/RO

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Março de 2021 foi mês mais letal da pandemia em Rondônia e também foi o mês com o maior registro de suicídios no estado nos últimos três anos, de acordo levantamento do jornal, feito através de dados divulgados pela Superintendência Estadual de Comunicação do Estado de Rondônia (Secom), referentes aos anos de 2019, 2020 e 2021.

O jornal buscou estatísticas oficiais e ouviu especialistas na área para tentar responder questões sobre os possíveis impactos da pandemia no aumento de tentativas e consumações de suicídios, sinais comuns de pessoas com pensamentos suicidas, como prevenir e como ajudar alguém.

Nesta reportagem, você vai encontrar:

  • Números de suicídios tentados e consumados em 2019, 2020 e 2021;
  • Sinais comuns da ideação suicida;
  • Como prevenir e o que fazer para ajudar alguém;
  • Mitos comuns sobre o suicídio;
  • Lista de atendimentos psicológicos gratuitos.

Dados da Secom revelam que dezenove pessoas tiraram a própria vida em março deste ano, o que representa o aumento de 111% em relação a quantidade de suicídios ocorridos no mesmo mês em 2020.

Até o dia 10 de setembro, data que celebra o dia Mundial da Prevenção ao Suicídio, 95 pessoas haviam cometido o ato em 2021. O gráfico abaixo mostra a quantidade de suicídios consumados nos últimos três anos, no período de janeiro a agosto.

CLIQUE AQUI E VEJA GRÁFICO )

A partir da análise do gráfico, é possível constatar que março de 2021 foi o mês com o maior registro de suicídios em Rondônia até o momento. O mês também foi o mais letal pela Covid-19 no estado, quando 1.196 pessoas perderam a vida para a doença.

A quantidade de tentativas de suicídios em junho de 2020 também é significativa. No ano passado, o mês foi o que apresentou a maior taxa de tentativas de tirar a própria vida dos últimos três anos e também foi o mês de ápice de casos e mortes por Covid em 2020.

Qual é a relação entre a pandemia e o aumento de tentativas e ocorrências de suicídio?
Conforme um estudo da Universidade de Ohio, em parceria com universidades de 11 países, a pandemia da Covid-19 causa mais impactos na saúde mental de brasileiros do que de pessoas de outros países. Isso porque, segundo a pesquisa, o aumento de doenças psicológicas no país está ligado a demora em controlar a pandemia da Covid-19.

“Países que deram rápidas respostas, como é o caso de Singapura, trouxeram uma certa situação de conforto para a população, em termos de informação. Ao passo que países que demoraram para dar uma resposta, como é o caso do Brasil, trouxeram essa situação de vulnerabilidade, com relação à incerteza e à percepção da doença”, explicou o professor e coordenador do estudo Ricardo Ricci.

Ninguém se preparou para os impactos que a pandemia causou, muito menos aos que ela ocasiona de forma indireta.

Além do vírus, a pandemia trouxe sentimentos de solidão, medo, luto, insuficiência e insegurança. Segundo a psicóloga Viviani Cecanho, esses sentimentos funcionam como gatilhos para pessoas com doenças psicológicas já existentes, como a depressão e a ansiedade, e quando não existe a doença, ela estimula o aparecimento.

Segundo a psicóloga, o convívio com a família sem estrutura e o encontro consigo mesmo através de pensamentos profundos são grandes fatores que possibilitam o adoecimento emocional e o pensamento suicida.

“A pessoa fica em casa pensando nos seus próprios conteúdos porque ela tem tempo. Geralmente, em um ambiente sem a pandemia, ela vai ter fugas no trabalho, no meio social, nas redes de contato, na balada, no passeio. Não tendo fugas, ela vai ser obrigada a ter contato consigo mesma. Uma coisa é você buscar uma terapia e ter contato com você porque você quer ter o contato, outra coisa é você ser obrigado. Então acaba trazendo gatilhos emocionais que a pessoa não sabe lidar”, explicou.

“Tem também o desgaste da família de receber essa pessoa dentro de casa por 24 horas, muitas vezes é uma família sem base, sem estrutura, sem organização. A família tinha que ter uma estrutura para dar suporte para as pessoas que as vezes não têm essa organização emocional”, falou.

O suicídio é resultado de doenças psicológicas?
Em entrevista ao jornal, o psicanalista Mário Corso explicou que é “uma cilada” ligar todos os casos de suicídio à depressão e às doenças psicológicas. Apesar do costume em pensar no suicídio como o ponto mais fundo da depressão, não há um processo gradual no indivíduo que está doente que o leva a tomar essa decisão.

Apesar de sempre serem levantadas questões sobre o motivo que precedeu o ato, o suicídio nunca é ocasionado por um único fator, mesmo que, inicialmente, seja atribuído a uma determinada causa. Quem se mata, nunca busca a morte e sim alívio para uma dor insuportável, da qual a pessoa não vê mais saída.

Quais os sinais comuns da ideação suicida?
O pensamento de que a solução dos problemas é dar um fim a própria vida é chamado de ideação suicida. Quando o indivíduo chega a esse estágio, de forma direta ou indireta, ele apresenta alguns sinais verbais e comportamentais que podem ser usados como alerta.

Viviani explica que em momentos de risco de suicídio, o profissional de saúde mental percebe que o paciente está em ideação através das sessões de terapia. Segundo ela, é por isso que o acompanhamento com profissionais é essencial na luta contra o suicídio.

“O paciente vai soltando frases durante a terapia e um profissional capacitado tem como filtrar. Um colega, um amigo, um parente não faz a escuta especializada porque ele não é treinado para isso. Por isso o direcionamento para um profissional, para um especialista no assunto, é fundamental e salva vidas”, alertou.

Veja a lista de sinais comportamentais e verbais da ideação suicida:

Comportamentais diretos

  • Tentativas de suicídio anteriores
  • Mudanças repentinas de comportamento
  • Ameaça de suicídio ou expressão/verbalização de intenso desejo de morrer
  • Ter um planejamento para o suicídio
  • Sinais observáveis de depressão
  • Oscilação de humor
  • Pessimismo
  • Desesperança
  • Desespero
  • Desamparo
  • Ansiedade, dor psíquica, estresse acentuado
  • Problemas associados ao sono (excessivo ou insônia)
  • Intensa raiva
  • Desejo de vingança
  • Sensação de estar preso e sem saída
  • Isolamento: família, amigos, eventos sociais
  • Mudanças dramáticas de humor
  • Falta de sentido para viver
  • Aumento do uso de álcool e/ou outras drogas
  • Impulsividade e interesse por situações de riscos

Comportamentais indiretos

  • Desfazer-se de objetos importantes
  • Conclusão de assuntos pendentes
  • Fazer um testamento
  • Despedir-se de parentes e amigos
  • Casos extremos de irritabilidade, culpa e choro
  • Fazer carteira de doação de órgãos
  • Comprar armas, estocar comprimidos
  • Fazer seguro de vida
  • Colocar coisas em ordem
  • Súbito interesse ou desinteresse em religião
  • Fechar a conta corrente

Verbais diretos

  • “Eu quero morrer.”
  • “Gostaria de estar morto.”
  • “Vou me matar.”
  • “Se isso acontecer novamente, prefiro estar morto.”
  • “A morte poderá resolver essa situação.”
  • “Se ele não me aceitar de volta, eu me matarei.”
  • “Quero sumir. Não aguento mais! Só morrendo mesmo para aguentar.”

Verbais indiretos

  • “Se isso acontecer novamente, acabarei com tudo.”
  • “Eu não consigo aguentar mais isso.”
  • “Você sentirá saudades quando eu partir.”
  • “Não estarei aqui quando você voltar.”
  • “Estou cansado da vida, não quero continuar.”
  • “Tudo ficará melhor depois da minha partida.”
  • “Não sou mais quem eu era.”
  • “Logo você não precisará mais se preocupar comigo.”
  • “Ninguém mais precisa de mim.”
  • “Eu sou mesmo um fracassado e inútil. Tudo seria melhor sem mim.”

‘Acolhimento’ é a palavra-chave
Em relação a como ajudar uma pessoa em ideação suicida, Viviani explicou que o acolhimento é a palavra chave.

“Seja uma criança, adolescente ou adulto, o acolhimento é você deixar muito claro para pessoa que você está ali, que ela não está sozinha, que você pode ajudar de alguma forma nem que seja oferecendo a sua escuta, mesmo que não você não seja profissional. O ‘pode contar comigo’ é de extrema relevância para quem está se sentindo sozinho”, explicou.

“A pessoa está se sentindo sozinha, ninguém chega ao absurdo de pensar em tirar a própria vida se ela tem uma rede de apoio. A pessoa só pensa dessa forma quando ela constrói dentro da cabeça que ela está sozinha, que ela não tem rede de apoio”, falou.

abraço;afeto;carinho — Foto: Marco Bianchetti

Mas esse acolhimento não é para ser feito de maneira forçada. Segundo a psicóloga, primeiro é preciso abrir uma ponte de comunicação com a pessoa de forma gradual, ouvindo mais e pontuando apenas frases que motivam.

“O acolhimento é você abrir uma ponte de comunicação com essa pessoa. Não é forçando ela falar, deixando ela falar da forma que você quer escutar e nem pontuando palavras do tipo: ‘todo mundo passa por isso’, ‘eu já passei por isso e não senti dessa forma e reagi diferente’, ‘você está sendo fraco’, ‘você está orando e rezando pouco’, ‘busque Jesus, vá na igreja’. Isso são frases que não ajudam, não edificam e não dão estrutura à pessoa”, disse

Em vez disso, Viviani deu alternativas de frases que podem ser ditas para pessoas em ideação suicida que podem ajudar a prevenir o ato.

  • “Vamos pensar em soluções juntos”
  • “Eu estou aqui com você”
  • “Vamos procurar uma forma ou possibilidade disso melhorar”
  • “Vamos fazer uma caminhada juntos”
  • “Eu tenho um excelente psicólogo para te indicar”

Mitos comuns sobre o suicídio

 

 

  1. ‘Quem fala, não faz’ – Não é verdade. Muitas vezes, a pessoa que diz que vai se matar não quer “chamar a atenção”, mas apenas dar um último sinal para pedir ajuda. Por isso, os especialistas pedem que um aviso de suicídio seja levado a sério.
  2. ‘Não se deve perguntar se a pessoa vai se matar’ – É importante, caso a pessoa esteja com sintomas da depressão, ter uma conversa para entender o que se passa e ajudar. Não tocar no assunto só piora a situação.
  3. ‘Só os depressivos clássicos se matam’ – Não. Existe o depressivo mais conhecido, aquele que fica deitado na cama e não consegue levantar. Mas outras reações podem ser previsões de um comportamento suicida, como alta agressividade e nível extremo de impulsividade. Os médicos, inclusive, pedem para a família ficar atenta ao momento em que um depressivo sem tratamento diz estar bem: muitas vezes ele pode já ter decidido se matar e tem o assunto como resolvido.
  4. ‘Quando a pessoa tenta uma vez, tenta sempre’ – A maior parte dos pacientes que levam a sério o tratamento com medicamentos e terapia não chegam a tentar se matar uma segunda vez. O importante é buscar a ajuda.

Atendimento psicológico gratuito
Para tentar diminuir os efeitos psicológicos, algumas instituições de Rondônia estão ofertando atendimento gratuito, além de atendimento online para municípios que não oferecem o serviço sem custo. Confira lista:

Porto Velho

  • Centros de Atenção Psicossocial (Caps) Três Marias
    Endereço: Rua Equador, nº 2212, bairro Nova Porto Velho
    Público: Adultos em geral
    Funcionamento: De segunda a sexta-feira, das 7h às 19h
    Contato: (69) 3901-2815

 

  • Caps Álcool e Drogas (AD)
    Endereço: Avenida Guaporé, nº 3929, bairro Flodolado Pontes Pinto
    Público: A partir de 17 anos
    Funcionamento: De segunda a sexta-feira, das 7h às 20h
    Contato: (69) 9 8473-2898

 

  • Caps Infantojuvenil
    Atendimento: Rua Matrinchã, nº 665, bairro Lagoa
    Público: 5 a 16 anos
    Funcionamento: De segunda a sexta-feira, das 7h às 19h
    Contato:(69) 9 8473-6436

 

  • Fundação Universidade Federal de Rondônia (Unir)
    Atendimento: Problemas causados pela pandemia da Covid-19, vítimas de violência doméstica, pessoas com transtornos mentais e problemas da vida adulta
    Público: A partir de 15 anos
    Contato: 2182-2025 (WhatsApp)

 

  • Faculdades Integradas Aparício Carvalho do Curso de Psicologia (Fimca)
    Atendimento: Triagem de Atendimento Psicoterápico, além do Plantão Escuta Psicológica, individual e grupal
    Público: Crianças, adolescentes, adultos e casais
    Funcionamento: Segunda à sexta, das 8h às 18h e sábado, de 8h às 12h
    Contato: (69) 3217-8938 e (69) 3226-9589

 

  • Centro Universitário São Lucas (Unisl)
    Funcionamento: Segunda a Sexta, das 14h às 21h
    Contato: (69) 3211-8027

 

  • Fundação Ana Fonseca de Epilepsia (Porto Velho)
    Atendimento: Abordagem cognitivo-comportamental
    Público: A partir dos 16 anos
    Contato: (69) 9930-6860

Cacoal

Faculdades Integradas de Cacoal (Unesc Campus I)

Atendimento: Modalidade de psicoterapia presencial e online

Funcionamento: Todos os dias no período vespertino, entre às 13h30 e 17h e nas quintas-feiras no período noturno, entre às 19h e 21h

Contato: (69) 3441-4503

  • Faculdade de Ciências Biomédicas de Cacoal (UniFacimed/Cacoal-RO)
    Público: Pessoas com idade acima de 12 anos e abaixo 59 anos
    Contato: (69) 3311-1950 e (69) 99607-1656 (WhatsApp)

Vale ressaltar que voluntários do Centro de Valorização da Vida estão disponíveis para conversação em todo território nacional, 24 horas por dia, todos os dias, de forma gratuita. Basta ligar no 188.

Fonte: G1/RO

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