O ex-procurador-geral Rodrigo Janot relata ter recebido, em março de 2016, pouco antes do impeachment de Dilma Rousseff, um convite para um encontro com o vice-presidente Michel Temer.
No Palácio do Jaburu, além do vice, estava o ex-presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves, que, sem meias palavras e com o aval de Temer, pediu a ele que poupasse o então deputado Eduardo Cunha de qualquer investigação.
“Pouco antes do início do processo de impeachment da Dilma, recebi um convite para ir ao Jaburu encontrar o vice-presidente. Lá, ele (Temer), depois de um pequeno rodeio, falou assim: ‘Estamos aqui para conversar não com o procurador-geral, mas com o patriota’. E entra o Henrique Eduardo Alves e reafirma: ‘Estamos aqui falando com o patriota e queríamos chamar o senhor para não permitir que o Brasil entre numa ‘situação de risco’. Esse homem é um louco. O senhor tem de parar essa investigação’. O louco era o deputado Eduardo Cunha. Custei a acreditar que estava ouvindo aquilo e disse que aquela conversa estava errada.
Diante da minha reação, Temer ainda insistiu: ‘O Henrique não está falando com o procurador-geral, ele está falando a um patriota. Não há gravidade na proposta que ele está fazendo’. Eles queriam que eu praticasse um crime, o de prevaricação. Falei alguns palavrões indizíveis antes de ir embora.
A declaração foi feita por Janot em entrevista a VEJA. Nela, ele também narra, entre outros episódios, que entrou armado no Supremo Tribunal Federal para tentar matar o ministro Gilmar Mendes – conta que tirou a pistola da cintura e ficou a dois metros do magistrado, mas desistiu – e conta que Aécio Neves (PSDB), assim como Temer, ofereceu cargo a ele para paralisar as investigações.